Resumo: O estudo analisou a trajetória de vida e de cuidado de mulheres residentes na zona noroeste do Município de Santos, São Paulo, Brasil, que passaram pela experiência de óbitos neonatais entre janeiro de 2015 a julho de 2016. Realizou-se triangulação de dados de documentos da seção de vigilância, diários de campo de visitas aos serviços e entrevistas com as mulheres. Essas constituíram o principal eixo da produção de dados empíricos, por meio de narrativas sobre a história sexual e reprodutiva, cuidado pré-natal, ao parto e a experiência do óbito neonatal. De 15 casos elegíveis, entrevistaram-se oito mulheres, seis com mais e duas com menos de 30 anos, negras, naturais de Santos, em ocupações de baixa qualificação. Como resultados do conjunto dos dados observou-se: (1) históricos de gestações não planejadas e diversos fatores de risco gestacionais; (2) reconhecimento pelas mulheres de que tiveram bom acesso aos serviços de saúde; (3) questionamentos relativos a: necessidade de exames e retornos, valorização de intercorrências, esclarecimento de condutas e encaminhamentos; (4) prematuridade, envolvida em todos os casos; (5) sobre o parto relatam dor, abandono e transferência por falta de leito em UTI neonatal; (6) falta de integração entre os níveis de atenção; e (7) após o óbito, abordagens restritas e pouco orientadas para uma atenção integral relativas ao evento do óbito neonatal. Conclui-se que embora o cuidado pré-natal tenha sido bem avaliado pelas mulheres, não se verifica, quanto à experiência do óbito neonatal, um cuidado integral para essas mulheres, com diálogo e oferta de métodos contraceptivos mais adequados ao seu histórico, ou relativamente ao sofrimento mental resultante dessas experiências.
The study analyzed the life and healthcare stories of women living in the Northwest Zone of the city of Santos, São Paulo State, Brazil, who had experienced neonatal deaths between January 2015 and July 2016. The study used triangulation of data from documents from the surveillance division, field diaries from visits to services, and interviews with the women. The interviews provided the main body of empirical data, based on narratives of the women’s sexual and reproductive history, prenatal care, childbirth, and the experience of neonatal death. Of the 15 eligible cases, 8 women were interviewed, 6 of whom over 30 years of age and 2 under 30 years, all African-Brazilians, natives of Santos, and working in unskilled occupations. The data yielded the following results: (1) histories of unplanned pregnancies with various gestational risk factors; (2) the women’s acknowledgment that they had experienced good access to health services; (3) questions concerning the need for tests and test results, understanding of complications, explanation of treatment approaches, and referrals; (4) prematurity, present in all the cases; (5) pain during labor, abandonment, and transfer to other services due to lack of beds in the neonatal ICU; (6) lack of integration between levels of care; and (7) after the infant’s death, limited approaches and little orientation on comprehensive care related to the neonatal death. In conclusion, although the prenatal care was positively rated by the women, there was no comprehensive care for them in relation to the experience of neonatal death, with dialogue and an offer of more adequate contraceptive methods given their health history, as well as counseling on the emotional distress resulting from these experiences.
Resumen: El estudio analizó la trayectoria de vida y cuidado de mujeres, residentes en la zona noroeste del municipio de Santos, estado de São Paulo, Brasil, que pasaron por la experiencia de muertes neonatales, de enero de 2015 a julio de 2016. Se realizó una triangulación de datos con documentos de la sección de vigilancia, diarios de campo de visitas a los servicios de salud y entrevistas con las mujeres. Estas constituyeron el principal eje de la producción de datos empíricos, a través de relatos sobre su historial sexual y reproductivo, cuidado prenatal, momento del parto y experiencia de muerte neonatal. De los 15 casos elegibles, se entrevistaron a 8 mujeres, 6 con más y 2 con menos de 30 años, negras, oriundas de Santos, en ocupaciones de baja cualificación. Como resultados del conjunto de datos se observaron: (1) historiales de embarazos no deseados y diversos factores de riesgo gestacionales; (2) reconocimiento de las mujeres que tuvieron un buen acceso a los servicios de salud; (3) interrogantes relacionados con: necesidad de exámenes y seguimiento, valoración de complicaciones, aclaración de conductas y derivaciones a otros servicios; (4) prematuridad, implicada en todos los casos; (5) sobre el parto, relatan dolor, abandono y traslados por falta de camas en UCI neonatal; (6) falta de integración entre los niveles de atención; y (7) tras el fallecimiento, existen planteamientos limitados y poco orientados a una atención integral, relacionada con el evento del óbito neonatal. Se concluye que aunque el cuidado prenatal haya sido bien evaluado por las mujeres, no se verifica, en cuanto a la experiencia de la muerte neonatal, un cuidado integral hacia esas mujeres, con un diálogo y oferta de métodos contraceptivos más adecuados a su historial, o en relación al sufrimiento mental resultante de esas experiencias.