O artigo discute a relação entre liberalismo e feminismo a partir de duas autoras feministas, Carole Pateman e Martha Nussbaum. Trata-se de uma questão importante para o feminismo, para o qual são fundamentais problemas associados às dicotomias público-privado e cultura-natureza - herdadas do liberalismo. Nesse sentido, discutimos as posições de Carole Pateman e Martha Nussbaum referentes a esses problemas. A escolha das autoras deveu-se ao fato de que ambas compartilham muitas premissas e conclusões, e por suas divergências situarem-se principalmente ao redor de problemas em que o feminismo é acrescentado ao liberalismo político. Assim sendo, fazer uma discussão entre as suas posições minimiza o risco de que a análise do debate não vá muito além das críticas que diversas teorias dirigem ao liberalismo, podendo funcionar, enfim, como uma boa porta de entrada para alguns dos pontos mais controversos da teoria feminista contemporânea. Nussbaum e Pateman parecem coincidir a respeito da concepção de igualdade de gênero. A crítica que ambas dirigem à relação entre natureza e cultura e ao formalismo da igualdade abstrata torna evidente que nenhuma delas pretende atribuir o poder ou a opressão da mulher a desígnios da natureza. Em ambas está muito claro que o que consideram relevante na organização de uma sociedade justa quanto ao gênero é a forma como uma sociedade valora as diferenças biológicas, bem como as implicações dessa valoração na distribuição de bens sociais. Nussbaum, porém, acredita que essa equação seja possível dentro da teoria liberal, desde que esta seja submetida a transformações que eliminem deturpações teóricas decorrentes do conservadorismo dos primeiros filósofos liberais.
This article discusses the relationship between liberalism and feminism through the work of two feminist scholars, Carole Pateman and Martha Nussbaum. This is an important issue for feminism, and one in which the problems associated with public-private and nature-culture dichotomies, inherited from liberalism, are fundamental. In this regard, we will discuss Carole Pateman and Martha Nussbaum's positions on the matter. Our choice of authors is due to the fact that both share many of same premises and conclusions, and because their divergences are located primarily around problems in which feminism is "added on" to political liberalism. Thus, in carrying out a discussion through both positions, we minimize the risk that the analysis of the debate move little beyond the critique that numerous theories have directed toward liberalism, and offer what can be a fruitful entry into one of the most controversial points in contemporary feminist theory. Nussbaum and Pateman seem to coincide regarding their conception of gender equality. In the criticism that both of them direct toward the nature-culture relationship and to the formalism of abstract equality, it becomes evident that neither seeks to attribute either power or the oppression of women to nature's designs. In both authors, it is very clear that what they consider relevant for the organization of a just society in terms of gender is the way in which a society places value on biological differences and what implications this has for the distribution of social goods. Nussbaum, however, believes that this equation can be dealt with within liberal theory, as long as it is subjected to changes which free it from theoretical problems linked to the conservative stance of the first liberal philosophers.
L'article discute la relation entre le libéralisme et le féminisme à partir de deux auteurs féministes, Carole Pateman et Martha Nussbaum. Il s'agit d'une question importante pour le féminisme, pour lequel ce sont des problèmes fondamentaux associés aux dichotomies publiques et privés, culture et nature - héritées du libéralisme. Dans ce sens, nous discutons les positions de Carole Pateman et Martha Nussbaum qui font réference à ces problèmes. Le choix des auteurs est due au fait que toutes les deux partagent beaucoup d'hypothèses et des conclusions, et aussi car leurs différences se situent principalement autour de problèmes où le féminisme est ajouté au libéralisme politique. Ainsi, faire une discussion entre leurs positions, minimise le risque de que l'analyse du débat n'aille pas plus loin que les critiques lesquelles plusieurs théories dirigent au libéralisme, pouvant fonctionner, enfin, comme une bonne porte d'entrée pour quelques uns des points les plus controversés de la théorie féministe contemporaine. Nussbaum et Pateman semblent coïncider par rapport à la conception de l'égalité de genre. La critique que toutes les deux dirigent à la relation entre la nature et la culture et au formalisme de l'égalité abstraite, rend évident que aucune des deux a l'intention d'attribuer le pouvoir ou l'oppression de la femme aux objectifs de la nature. Chez toutes les deux, il est très clair que ce que c'est consideré pertinent dans l'organization d'une société juste par rapport au genre, c'est la forme dont une société valorise les différences biologiques, tout comme les implications de cette valorisation dans la distribution de biens sociaux. Mais, Nussbaum, croit que cette équation est possible dans la théorie libérale, tandis que celle-ci doit être soumise à des transformations qui éliminent des déformations théoriques qui suivent le conservatisme des premiers philosophes libéraux.