Descrevem-se as razões alegadas pelas mães para o desmame e a introdução de mamadeira em uma amostra de 875 mulheres, de um bairro de São Paulo, que deram a luz em uma maternidade pública local, em 1985. Estas mães fizeram parte de um estudo de intervenção pró-amamentação desenvolvido nos serviços públicos de saúde por elas freqüentados até o 4º mês de vida das crianças. Discutem-se formas diferentes de coleta de dados sobre o processo de desmame e apresentam-se três maneiras distintas de analisar tais dados. Conclui-se que as razões mais alegadas pelas mães para introduzir a mamadeira, quando colhidas em várias entrevistas com elas ("entrevistas múltiplas") são: trabalho fora do lar (20,5%), nervosismo (12,5%) e conveniência da mãe (11/0%). Entretanto, quando tais razões são argüidas em apenas um primeiro contacto, assim aparecem: choro do bebê (23,0%), conceitos ou suposições sobre o aleitamento (12,5%) e trabalho fora do lar (11,0%). Estas diferenças no perfil de razões conforme o tipo de coleta, não aparecem evidentes no caso de razões para o desmame completo, entretanto, acreditando-se ser o desmame um processo, onde razões de introdução da mamadeira e do desmame devem ser vistas como um todo, as autoras apontam para a vantagem de se utilizar todas as respostas da mãe em diversos momentos ("entrevistas múltiplas") no sentido de melhor contribuir para a elucidação daquele processo. O agrupamento das razões conforme responsabilização pelo desmame mostra que, ao se permitir que a mãe reveja seu discurso em várias entrevistas, ao invés de em uma única, ela passa a responsabilizar mais a si própria (ato de vontade) do que o bebê ou o seu próprio corpo. Apontam-se limites do sistema de saúde em interferir no processo de desmame precoce e perspectivas de intervenção de ordem mais ampla.
Reasons, alleged by mothers, for early weaning and for the introduction of breast-milk substitutes were studied, in 1985, in a public maternity hospital of S. Paulo City. These mothers were part of an intervention project to support and promote breast-feeding through public health services. Eight hundred and seventy-five women were followed up from delivery to the 4th month of the baby's life. Reasons for weaning were collected immediately afterwards ("single interview") and were also again asked for when the mother returned to the health unit ("multiple interview"). All the reasons given were collected and classified according to "responsibility": of the mother (her own desire to wean), of her baby (attributed to the baby), of her body (the mother's physical reasons) and of other people (doctor, husband, neighbor, etc.). The most prevalent reasons for the introduction of breast-milk substitutes, according to "multiple interview", were: mother had to work out (20.5%), got agitated (12.5%) and convenience (11.0%). According to "single interview" they were: the baby's crying (23.0%), prior conceptions of infant feeding (12.5%), working out (11.0%). These differences were not so evident among the reasons for complete weaning; however, considering weaning as a long process in which the reasons for the introduction of breast-milk substitutes may be linked to reasons for the "sevrage", the advantages of utilizing all the answers of different contacts with the women ("multiple interview") over against just one answer given on one ocasion as a contribution to the clarification of the weaning process in each cultural site, is indicated. The reasons gathered and classified according to "responsibility" show that "multiple interview" beings to light more answers related to the desire to wean on the part of the mother herself than the baby, or the mother's body. It is argued that the health system has limits to its ability to intervene in the most prevalent reasons for early weaning and the necessity for social policies, such as maternity protection legislation, child nurseries, etc., in support of breast-feeding, is commented on.