Estudos sobre morbidade hospitalar em povos indígenas no Brasil são relativamente recentes, restritos quanto à cobertura e carecem de fontes de dados capazes de gerar indicadores por etnia. Esse estudo descreve a morbidade hospitalar indígena na população residente em 83 aldeias Guarani no Sul e Sudeste do Brasil (N = 6.483), a partir de dados primários obtidos em um sistema de vigilância de hospitalizações implantado em 2007/2008, especificamente para um estudo caso-controle sobre infecção respiratória aguda (IRA) em crianças Guarani. No período, ocorreram 666 hospitalizações concentradas em 497 indivíduos, sendo a maioria em < 5 anos (71,9%). As doenças respiratórias foram as principais causas de hospitalização (64,6%), sobretudo em crianças (< 5 anos: 77,6%; < 1 ano: 83,4%), superando as magnitudes das proporções de hospitalização por essas causas em outros grupos indígenas. A taxa de hospitalização (por 100 pessoas-ano) global foi de 8,8, correspondendo a 71,4 em < 1 ano e a 21,0 entre 1 e 4 anos. A taxa de hospitalização por IRA (5,3) superou em 6,5 e 2,0 vezes àquelas por diarréia e por demais causas, enquanto em < 5 anos (IRA = 23,7), essas razões de taxas foram de 7,4 e 5,4, respectivamente. A taxa padronizada de hospitalização Guarani superou as taxas padronizadas das regiões Sul e Sudeste em 40% e 210%, respectivamente. As hospitalizações marcadas por condições sensíveis à atenção primária e a magnitude das IRA indicam que, além de estudos para compreender a epidemiologia das IRA, são necessários investimentos na qualificação da atenção primária à saúde Guarani.
Studies on hospital morbidity among Brazilian indigenous peoples are relatively recent, show limited coverage, and lack data sources capable of generating specific indicators according to ethnic group. The current study describes hospital morbidity in the indigenous population living in 83 Guarani villages in Southern and Southeastern Brazil (N=6,483), based on primary data obtained from a hospital admissions surveillance system implemented in 2007-2008, specifically for a case-control study on acute respiratory infections (ARI) in Guarani children. During the study period there were 666 hospitalizations in a total of 497 individuals, the majority under 5 years of age (71.9%). Respiratory illnesses were the main causes of hospitalization (64.6%), especially in children (<5 years: 77.6%; <1 year: 83.4%) and exceeded the proportions of hospital admissions from these causes in other indigenous groups. The overall hospitalization rate (per 100 person-years) was 8.8, or 71.4 under 1 year and 21.0 from 1 to 4 years of age. The ARI hospitalization rate (5.3) was 6.5 and 2.0 times higher than for diarrhea and other causes, respectively, while in children under 5 years of age (ARI=23.7) these differences were 7.4 and 5.4 times, respectively. The standardized Guarani hospitalization rate exceeded the standardized rates for the South and Southeast of Brazil by 40% and 210%, respectively. Hospitalization for primary care sensitive conditions and the high ARI rates indicate the need for studies to understand the epidemiology of ARI and investments to upgrade primary health care for the Guarani.