OBJETIVO: A emergência de cepas microbianas com crescentes níveis de resistência aos antimicrobianos tem sido objeto de preocupação em todo o mundo. Entre as causas apontadas para o fenômeno, está o uso abusivo e indiscriminado de drogas antimicrobianas. O presente estudo visa fornecer informações sobre o padrão de utilização dessas drogas em uma população urbana. MÉTODOS: Em um estudo transversal, de base populacional, 6.145 indivíduos de todas as idades residentes na zona urbana de Pelotas, Rio Grande do Sul, foram entrevistados sobre o uso de antimicrobianos nos 30 dias que antecederam a entrevista. RESULTADOS: A prevalência global de utilização de antimicrobianos encontrada foi de 8%. Essa foi maior entre as crianças até quatro anos de idade (14%; p<0,001), entre as mulheres (9%; p=0,004) e entre os separados/divorciados (10%; p=0,02). As indicações clínicas principais foram infecções do trato respiratório (50%), infecções do trato urinário (16%) e infecções dentárias (9%). As drogas antimicrobianas mais utilizadas foram as penicilinas (41%), as sulfas (17%) e as tetraciclinas (8%). CONCLUSÕES: O uso intensivo de drogas de última geração, temido por muitos estudiosos do tema, não foi confirmado. A possibilidade de redução da utilização de antimicrobianos existe, uma vez que as afecções do trato respiratório (a principal indicação para o seu uso) são, em sua maioria, de etiologia viral, e seu tratamento não se beneficia com drogas antimicrobianas.
OBJECTIVE: The emergence of multiresistant microorganisms has been a concerning matter worldwide in the last decades. Indiscriminate use of antibiotics has been associated to this phenomenon. The present study was designed to determine the pattern of antimicrobial drug use in an urban community. METHODS: A population-based cross-sectional study was carried out and 6,145 subjects of all ages living in the urban area of Pelotas, Brazil, were interviewed on the use of antimicrobial drugs in the 30 days previous to the interview. RESULTS: The overall prevalence of antimicrobial drug use was 8%. It was higher for children under 4 years of age (14%; p<0.001), women (9%; p=0.004) and divorced subjects (10%; p=0.02). The clinical conditions most frequently associated with antimicrobial drug use were respiratory tract infections (50%), urinary tract infections (16%), and dental infections (9%). Penicillins (41%), sulphas (17%), and tetracycline (8%) were the most commonly used drugs. CONCLUSIONS: Abuse of last generation antimicrobial drugs, a concern of many experts, was not confirmed in this study. Antimicrobial drug use could be further reduced as respiratory illnesses, most frequently associated with their use, are often viral and many patients will not benefit from antimicrobial therapy.