Resumo Introdução: O elevado número de procedimentos vasculares percutâneos resulta num aumento das complicações relacionadas com o acesso vascular. A mais frequente é o falso aneurisma (FA), cuja intervenção de primeira linha é atualmente a injeção eco-guiada de trombina humana (IETH). Métodos: Estudo observacional retrospetivo realizado através da consulta de processos clínicos dos doentes submetidos a IETH por FA femoral num hospital terciário no período de 2008 a 2018. O end-point primário foi o sucesso desta modalidade terapêutica (trombose primária e à reavaliação ecográfica). Os end-points secundários foram complicações relacionadas com o procedimento, reintervenções, duração de internamento e sobrevida. Resultados: A amostra incluiu 102 doentes. 97% dos FA tinham etiologia iatrogénica confirmada. 4% foram diagnosticados após intervenção pela Cirurgia Vascular e 85% após intervenção pela Cardiologia, dos quais 80% após cateterismo coronário e 13% após TAVI (transcatheter aortic valve implantation). 58% dos doentes estavam antiagregados e 50% anticoagulados. 80% dos FA ocorreram à direita. 65% afetavam a AFC e 35% a AFS ou AFP. O diâmetro médio dos FA tratados por IETH foi de 36,8mm. 29% apresentavam-se lobulados (FA complexos). Quanto às características do colo do FA, 58% tinham colo longo (≥3mm de comprimento) e 58% tinham colo estreito (<3mm de calibre). O tempo mediano até à IETH após intervenção causal foi de 6 dias. 89% apresentaram trombose primária após IETH, decrescendo para 73% à reavaliação posterior por Eco Doppler. 16% repetiram IETH, 5% mais que uma vez. Não foram documentadas complicações relacionadas com o procedimento. Os falsos aneurismas complexos associaram-se a taxas inferiores de trombose completa à reavaliação ecográfica (p=0,012). O segmento arterial afetado, realização de antitrombóticos, diâmetro do FA e características do colo não apresentaram associação com a taxa de trombose do FA. 6% dos doentes submetidos a IETH foram submetidos a tratamento cirúrgico de FA femoral (a maioria após mais de 2 IETH), num dos casos por via endovascular. O tempo mediano de internamento após 1ª IETH foi de 3 dias, superior nos doentes com etiologia iatrogénica após TAVI comparativamente a após cateterismo coronário (p=0,006). A sobrevida dos doentes submetidos a IETH foi de 97±2% a 1 mês, 86±4% a 1 ano e 60±7% a 5 anos, sem diferença significativa de acordo com etiologia do FA femoral. Conclusão: A IETH é uma alternativa segura e com elevada eficácia para o tratamento de FA pós cateterização vascular. É expectável que 1/6 dos doentes necessite de mais do que uma injeção para obter o sucesso desejado, sendo esse risco mais elevado no caso de FA complexos. Apesar dos bons resultados, alguns doentes continuarão a necessitar de correção cirúrgica.
Abstract Introduction: Increased percutaneous vascular procedures lead to a growth in access-related complications, the most common of which is pseudoaneurysm (PA). Nowadays, femoral PA first-line treatment is ultrasound-guided thrombin injection (UGTI). Methods: An observational retrospective study was designed. Patients who underwent UGTI on a tertiary hospital, from 2008 to 2018 were included. Data were collected from medical records. Primary endpoint was UGTI success (primary PA occlusion and after US revaluation PA occlusion). Secondary endpoints were procedure-related complications, reinterventions, hospitalization duration and survival. Results: 102 patients were included. 97% of PA had a confirmed iatrogenic etiology. 4% were diagnosed after a vascular procedure and 85% after cardiology procedure, 80% of which after coronary catheterization and 13% after TAVI (transcatheter aortic valve implantation). 58% of patients where on antiplatelets and 50% on anticoagulation therapy. 80% of PA was located on the right groin. 65% affected CFA and 35% affected SFA or PFA. PA mean diameter was 36,8mm. 29% of PA were lobulated (complex PA). Regarding PA neck, 58% had long neck (length ≥3mm) and 58% had narrow neck (width <3mm). Median time from iatrogenic trauma to UGTI was 6 days. 89% of PA showed primary occlusion after UGTI; this rate decreased to 73% after US revaluation. 16% of patients repeated UGTI, 5% more than once. We identified no procedure-related complications. Complex PA were associated with lower rates of PA occlusion on US revaluation (p=0,012). We found no association between occlusion rates and affected artery, antithrombotic medication, PA diameter, neck length or width. 6% of patients underwent femoral PA surgical procedure (most of them after more than 2 UGTI); one underwent an endovascular repair procedure. After UGTI, hospitalization median time was 3 days, longer after TAVI compared with coronary catheterization (p=0,006). Patients mean survival was 97±2% at 1 month, 86±4% at 1 year e 60±7% at 5 years, with no significant difference between different PA etiologies. Conclusion: UGTI is a safe and effective modality for PA treatment. We can expect that 1/6 of patients will need more than one UGTI to achieve expected success; this risk is higher in complex PA. Despite good results, some patients will continue to require surgical procedures.