Resumo: O objetivo principal do trabalho é analisar como discursos de medicalização & humanização se (re)articulam na atenção primária em saúde e configuram o cuidado pré-natal de mulheres grávidas realizado por equipes de saúde da família. Trata-se de um estudo de caso do tipo único e integrado, com múltiplas unidades de análises e abordagem qualitativa. Foram realizados 17 grupos focais e ouvidos 47 trabalhadores (14 médicos, 19 enfermeiros e 14 cirurgiões-dentistas) que compunham 17 equipes de saúde da família em 16 municípios no Sul do Brasil. O material empírico foi analisado na perspectiva da análise do discurso foucaultiana. As equipes de saúde da família, praticantes da medicina generalista, relataram dificuldades para realizar o cuidado pré-natal das mulheres gestantes, evocando e fortalecendo o discurso da medicalização obstétrica que sua prática deveria enfraquecer. O discurso oficialmente adotado pela humanização, privilegiado no modelo generalista de atenção às mulheres gestantes, segue funcionando como discurso complementar ao da medicalização e da especialização, que prevalece nas práticas relatadas. A ênfase na atenção humanizada à mulher na gestação interfere nas fronteiras dos territórios profissionais e pressupõe renegociação de competências. Esforços de colaboração empreendidos entre as equipes de saúde da família e obstetras não apresentam muito sucesso.
Abstract: The study’s main objective is to analyze how discourses of medicalization and humanization reconnect in primary healthcare and shape prenatal care for pregnant women provided by family health teams. This was a single and integrated case study with multiple analytical units and a qualitative approach. A total of 17 focus groups were performed, in which 47 health professionals were heard (14 physicians, 19 nurses, and 14 dentists), members of 17 family health teams in 16 municipalities in the South of Brazil. The empirical material was analyzed from the perspective of Foucauldian discourse analysis. The family health teams, adopting general practice, reported difficulties in conducting prenatal care, evoking and bolstering the discourse of obstetric medicalization that their practice should supposedly offset. The discourse officially adopted by humanization, prioritized in the generalist model of prenatal care, continues to function as a complementary discourse to that of medicalization and specialization, which prevails in the practices reported by the teams. The emphasis on humanized care for pregnant women tests the limits of professional territories and assumes the renegotiation of competencies. Efforts at collaboration between the family health teams and obstetricians have not proved very successful in this specific case.
Resumen: El objetivo principal de este trabajo es analizar cómo los discursos de medicalización y humanización se vuelven a articular entorno a la atención primaria en salud y conforman el cuidado prenatal de mujeres embarazadas, realizado a través de equipos de salud orientados a la familia. Se trata de un estudio de caso de tipo único e integrado, con múltiples unidades de análisis y enfoque cualitativo. Se formaron 17 grupos focales y se escucharon a 47 trabajadores (14 médicos, 19 enfermeros y 14 cirujanos dentales), que componían 17 equipos de salud orientados a la familia en 16 municipios en el sur de Brasil. El material empírico se analizó desde la perspectiva del análisis del discurso foucaultiano. Los equipos de salud orientados a la familia, profesionales de medicina general, informaron sobre las dificultades para realizar el cuidado prenatal de las mujeres gestantes, evocando y fortaleciendo el discurso de la medicalización obstétrica, cuya práctica debería estar debilitándose. El discurso oficialmente adoptado en pro de la humanización, privilegiado en el modelo generalista de atención a las mujeres gestantes, sigue funcionando como discurso complementario al de la medicalización y de la especialización, que prevalece en las prácticas relatadas. El énfasis en la atención humanizada a la mujer en la gestación interfiere en las fronteras de las áreas profesionales y presupone la renegociación de competencias. Los esfuerzos de colaboración emprendidos entre los equipos de salud orientados a la familia y los obstetras no presentan mucho éxito.