RESUMO Contexto A resistência à insulina (RI), avaliada por diferentes critérios, é um fator importante na patogênese da doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Mas, recentemente, com a caracterização desta disfunção metabólica associada com a doença hepática gordurosa (DGH), um dos critérios propostos para este diagnóstico tem sido a determinação do modelo de avaliação da homeostase-resistência à insulina (HOMA-IR). Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a relação do HOMA-IR> 2,5 com dados clínicos, metabólicos, bioquímicos e histológicos obtidos em pacientes não diabéticos diagnosticados com DHGNA por biópsia hepática. Métodos Estudo transversal, retrospectivo, com dados de 174 indivíduos adultos de ambos os sexos com DHGNA não-diabética, sem sinais evidentes de hipertensão portal. O índice de massa corporal (IMC) foi classificado de acordo com a Organização Mundial da Saúde (1998) e a síndrome metabólica pelos critérios do NCEP-ATP-III. Os exames bioquímicos foram avaliados pelo método automatizado e a insulinemia por imunofluorometria. Os achados histológicos foram classificados de acordo com Kleiner et al. (2005). Resultados: A média de idade da população estudada foi de 53,6±11,2 anos, sendo 60,3% do sexo feminino. O IMC médio foi de 30,3 kg/m2 e 75,9% dos pacientes apresentaram circunferência da cintura aumentada. Entre os parâmetros metabólicos avaliados, houve maior prevalência de síndrome metabólica (SM) em pacientes com HOMA-IR >2,5, sem diferença estatística em relação ao IMC entre os grupos estudados. Os valores das enzimas hepáticas e da ferritina sérica foram significativamente maiores nos pacientes com este marcador de RI, que apresentaram maior prevalência de esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) e fibrose hepática avançada. Na análise multivariada, o diagnóstico clínico de SM, hiperferritinemia e a presença de EHNA na biópsia hepática foram os fatores independentemente associados à presença de HOMA-IR alterado. Conclusão: Valores de HOMA-IR >2,5 identificam pacientes com DHGNA com características clínicas e metabólicas distintas e com maior potencial de progressão da doença, o que valida esse parâmetro na identificação de pacientes com DHG.
ABSTRACT Background Insulin resistance (IR), assessed by different criteria, is an important factor in the pathogenesis of non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD). More recently with the characterization of this metabolic dysfunction-associated fatty liver disease (MAFLD), one of the proposed criteria for this diagnosis has been the determination of the homeostasis model assessment-insulin resistance (HOMA-IR). Objective: The purpose of this study was to evaluate the relationship of HOMA-IR>2.5 with clinical, metabolic, biochemical and histological data obtained in non-diabetic patients diagnosed with NAFLD by liver biopsy. Methods: Cross-sectional, retrospective study was carried out with data from 174 adult individuals of both genders with non-diabetics NAFLD, without obvious signs of portal hypertension. The body mass index (BMI) was classified according to the World Health Organization (1998), and the metabolic syndrome by the criteria of NCEP-ATP-III. Biochemical tests were evaluated using an automated method and insulinemia through immunofluorometric assay. Histological findings were classified according to Kleiner et al. (2005). Results: The mean age of the studied population was 53.6±11.2 years, with 60.3% being female. The average BMI was 30.3 kg/m2 and 75.9% of the patients had increased waist circumference. Among evaluated metabolic parameters, there was a higher prevalence of metabolic syndrome (MS) in patients with HOMA-IR>2.5, with no statistical difference in relation to BMI between studied groups. Values of liver enzymes and serum ferritin were significantly higher in patients with this marker of IR, who had a higher prevalence of non-alcoholic steatohepatitis (NASH) and advanced liver fibrosis. In the multivariate analysis, the clinical diagnosis of MS, hyperferritinemia and the presence of NASH in the liver biopsy were the factors independently associated with the presence of altered HOMA-IR. Conclusion: HOMA-IR values >2.5 identify patients with NAFLD with distinct clinical and metabolic characteristics and with a greater potential for disease progression, which validates this parameter in the identification of patients with MAFLD.