Abstract In this article, we discuss two books that deal with catastrophes that occurred in Brazil recently: Tragédia em Mariana (Tragedy in Mariana) by Cristina Serra (Record, 2018) and Brumadinho: A Engenharia de um Crime (Brumadinho: The Engineering of a Crime) by Lucas Ragazzi and Murilo Rocha (Letramento, 2021). Although these works share similarities in formal and thematic aspects, we understand that they indicate different modes of journalistic approach to the world, with distinct ethical implications, particularly regarding how the victims of these catastrophes emerge in the reports. We consider that journalistic characters have a double existence: inside and outside the text. Furthermore, it is an ethical responsibility to reflect on how they are constituted, considering possible connections between one and the other. We propose, therefore, to discuss the modes of journalistic approach to such events from three articulated, analytical dimensions, using the two works. On the topic of “Indications of Listening and Authorial Presence”, we focused on how the authors checked the information in their books, listened to the victims or investigated other catastrophes’ records. In “Characters With(out) a Plot”, we discuss who they are, whose stories are told in these books, how it is done, and possible effects. In “Pro ject and Paratexts”, we address the intentions declared by each author-reporter. We also examine whether or not they explore a book’s potential as to the specific aspect of character development. Finally, we compared the approaches of other reporters to the representations of their characters to reflect on how each author-reporter of the works we analysed faces the catastrophe. We also examined what kind of journalistic record their postures reflect.
Resumo Neste artigo, abordamos dois livros-reportagem que tratam de catástrofes ocorridas no Brasil, recentemente: Tragédia em Mariana, de Cristina Serra (Record, 2018) e Brumadinho: A Engenharia de um Crime, de Lucas Ragazzi e Murilo Rocha (Letramento, 2021). Embora estes trabalhos compartilhem similaridades tais como aspectos formais e temáticos, entendemos que indiciam diferentes modos de apreensão jornalística do mundo, com distintas implicações éticas particularmente no que concerne ao modo como as personagens vítimas dessas catástrofes emergem nas reportagens. Consideramos que os personagens jornalísticos têm dupla existência: no texto e fora dele, e é uma responsabilidade ética refletir sobre as formas como são constituídos tendo em vista possíveis passagens entre um e outro. Propomos então discutir, valendo-nos das duas obras, os modos de aproximação jornalística com tais acontecimentos a partir de três dimensões analíticas articuladas. No tópico “Marcas de Escuta e Presença Autoral”, damos atenção a indícios de como os autores e autora apuraram as informações que constam em seus livros, colocando sua escuta junto às vítimas ou apurando outros registros das catástrofes. Em “Personagens (S)em Enredo”, discutimos quem são aqueles cujas histórias são contadas nesses livros, como isso se faz e com que possíveis efeitos. Em “Projeto e Paratextos”, abordamos as intenções declaradas por cada autor-repórter, bem como o quanto exploram ou não as potencialidades de um livro-reportagem no aspecto específico do desenvolvimento de personagens. Por fim, cotejamos abordagens de outros repórteres sobre as representações de seus personagens para pensar como cada autor-repórter das obras que analisamos aqui se posiciona diante da catástrofe e que tipo de registro jornalístico sua postura reflete.