O estudo objetiva compreender a influência das relações comunicacionais entre os profissionais da rede de atenção à saúde na coordenação entre níveis assistenciais. Estudo qualitativo com dados de pesquisa multicêntrica internacional Equity-LA II, utilizando o referencial teórico da hermenêutica dialética. Escutaram-se áudios de 15 entrevistas a profissionais (7 médicos da atenção primária e 5 da atenção especializada e de 3 apoiadores institucionais da atenção primária) de uma rede municipal no agreste pernambucano, Brasil, em 2016. As categorias mistas foram submetidas à análise de conteúdo. Revelou-se o não reconhecimento da atenção primária como ordenadora do cuidado por quase todos os profissionais e a percepção sobre a coordenação do cuidado desvelou obstáculos relacionados aos desencontros em estabelecer relações dialógicas. O saber sobre o papel do médico da atenção primária é incompleto e sua práxis vista com desconfiança por especialistas, a recíproca não ocorrendo. Percebeu-se uma relação interpessoal não dialógica, pautada na relação assimétrica refletida na postura autoritária do especialista e de inferioridade dos médicos da atenção primária. A base do agir comunicativo refere-se às pretensões de validade e não de poder, que é externo à linguagem, e impossibilita a discussão de razões e argumentos. Evidenciou-se pouca disponibilidade ao diálogo e ao reconhecimento recíproco entre os envolvidos, com interdição da situação comunicativa, em que há simetria de participação. Os resultados revelaram fragilidades comunicacionais, sendo necessárias estratégias que permitam o alcance do entendimento comunicativo entre os profissionais, promovendo o seguimento satisfatório entre níveis assistenciais.
The study aims to understand the influence of communicational relations among healthcare professionals in the coordination of care between levels. This is a qualitative study with data from the international multicenter study Equity-LA II, with dialectic hermeneutics as the theoretical reference. The authors listened to the audios from 15 interviews with professionals (7 physicians from primary care and 5 from specialized care, and 3 institutional supporters from primary care) in a municipal network in the Agreste region of the state of Pernambuco, Brazil, in 2016. The mixed categories were submitted to content analysis. The analysis revealed a lack of recognition, by nearly all of the professionals, of primary care as the organizational backbone for care, and the perception of coordination revealed obstacles related to disconnects in establishing dialogical relations. Knowledge of the physician’s role in primary care is incomplete, and its praxis is viewed with distrust by specialists, while the reciprocal is not true. There was a visibly non-dialogical interpersonal relationship, based on asymmetric relations reflected in the specialist’s authoritarian stance and that of inferiority of primary care physicians. The basis for the communicative action relates to pretensions of validity rather than of power, which is external to language, and impedes the discussion of reasons and arguments. There was little disposition for dialogue and reciprocal recognition between the parties involved, with interdiction of a communicative situation in which there is symmetry of participation. The results revealed communicational weaknesses, thus requiring strategies that allow achieving communicative understanding among the professionals and promoting satisfactory patient follow-up between levels of care.
El objetivo del estudio fue comprender la influencia de las relaciones comunicacionales entre los profesionales de la red de atención a la salud en la coordinación entre niveles asistenciales. Estudio cualitativo con datos de investigación multicéntrica internacional Equity-LA II, utilizando el marco referencial teórico de la hermenéutica dialéctica. Se escucharon audios de 15 entrevistas a profesionales (7 médicos de la atención primaria y 5 de la atención especializada, y 3 profesionales de la atención primaria), en una red municipal en zona rural pernambucana, Brasil, en 2016. Las categorías mixtas se sometieron al análisis de contenido. Se reveló el no reconocimiento de la atención primaria como ordenadora del cuidado por casi todos los profesionales, y la percepción sobre la coordinación del cuidado desveló obstáculos relacionados con los desencuentros para establecer relaciones dialógicas. El saber sobre el papel del médico de la atención primaria es incompleto y su praxis vista con desconfianza por especialistas, lo que no sucede recíprocamente. Se percibió una relación interpersonal no dialógica, pautada en la relación asimétrica, reflejada en la postura autoritaria del especialista y de inferioridad de los médicos de la atención primaria. La base de la actuación comunicativa se refiere a las pretensiones de validez y no de poder, que es externo al lenguaje, e imposibilita la discusión de razones y argumentos. Se evidenció la poca disponibilidad para el diálogo y reconocimiento recíproco entre los implicados, con prohibición de situaciones comunicativas donde existe simetría de participación. Los resultados revelaron fragilidades comunicacionales, siendo necesarias estrategias que permitan el alcance del entendimiento comunicativo entre los profesionales, promoviendo el seguimiento satisfactorio entre niveles asistenciales.