Em oposição a definições objetivas da física do solo, o termo subjetivo “qualidade física do solo” aparece com frequência cada vez maior em trabalhos publicados da área. Um suposto indicador de qualidade física do solo que recebe muita atenção, especialmente na literatura brasileira, é o Intervalo Hídrico Ótimo (IHO), definido por quatro teores-limite de água. Nesse texto, discutem-se seus quatro teores-limite à luz de propriedades físicas do solo determináveis objetivamente, apontando-se incoerências na definição e no cálculo do IHO. Discute-se a interpretação do IHO como indicador da produtividade das culturas ou da qualidade física do solo, demonstrando-se sua incapacidade de abranger condições de contorno fenológicas e pedológicas comuns. Demonstra-se, também, que as densidades críticas encontradas pelo IHO por método comumente empregado são questionáveis. Considerando a disponibilidade de modelos comprovadamente robustos para as áreas de agronomia, ecologia, hidrologia, meteorologia e outras conexas, a popularidade do IHO como indicador na física do solo brasileira não pode ser entendido pela sua eficácia, pois essa nunca foi comprovada, mas deve ser explicado pela simplicidade com que ele é tratado. A determinação dos respectivos teores-limite de forma simplificada, deixando o estudo ou a preocupação com o real funcionamento do sistema para o segundo plano, vai à contramão da construção científica e do entendimento sistêmico. Sugere-se um realinhamento da pesquisa em física do solo no Brasil com os preceitos da ciência, na direção da física do solo mecanística em detrimento da busca por correlações empíricas aquém do estado da arte em física do solo.
As opposed to objective definitions in soil physics, the subjective term “soil physical quality” is increasingly found in publications in the soil physics area. A supposed indicator of soil physical quality that has been the focus of attention, especially in the Brazilian literature, is the Least Limiting Water Range (RLL), translated in Portuguese as "Intervalo Hídrico Ótimo" or IHO. In this paper the four limiting water contents that define RLLare discussed in the light of objectively determinable soil physical properties, pointing to inconsistencies in the RLLdefinition and calculation. It also discusses the interpretation of RLL as an indicator of crop productivity or soil physical quality, showing its inability to consider common phenological and pedological boundary conditions. It is shown that so-called “critical densities” found by the RLL through a commonly applied calculation method are questionable. Considering the availability of robust models for agronomy, ecology, hydrology, meteorology and other related areas, the attractiveness of RLL as an indicator to Brazilian soil physicists is not related to its (never proven) effectiveness, but rather to the simplicity with which it is dealt. Determining the respective limiting contents in a simplified manner, relegating the study or concern on the actual functioning of the system to a lower priority, goes against scientific construction and systemic understanding. This study suggests a realignment of the research in soil physics in Brazil with scientific precepts, towards mechanistic soil physics, to replace the currently predominant search for empirical correlations below the state of the art of soil physics.