RESUMO Introdução: A diversidade socioeconômica e demográfica no ambiente educacional e o desenvolvimento de attitudes profissionais estão associados ao aumento na qualidade da assistência em saúde. Apesar da importância dessa diversidade para a equidade e acessibilidade ao sistema de saúde, sua repercussão no aprendizado atitudinal dos estudantes em nosso meio ainda é muito pouco estudada e avaliada. Objetivo: Avaliar a influência das diferenças demográficas, sociais e económicas e da organização curricular no desempenho atitudinal de estudantes de graduação em Medicina em diferentes fases do curso. Método: Em 2012, o desempenho atitudinal de 310 estudantes de Medicina foi avaliado mediante a aplicação de uma escala de atitudes profissionais de cinco pontos. Os participantes eram de diferentes séries do curso de graduação em Medicina de uma escola pública de Medicina de Brasília (DF). A escala de atitudes utilizada era composta por seis fatores — Comunicação; Ética; Excelência Profissional; Autoavaliação; Crenças; Determinantes Sociais; e um fator geral chamado Profissionalismo Médico — e foi validada para as finalidades desta pesquisa. O coeficiente de fidedignidade (a de Cronbach) para as diferentes dimensões da escala variou de 0,65 a 0,87. A diversidade dos estudantes foi avaliada de acordo com gênero, idade, religião, sistema de ingresso no curso (cotistas sociais/não cotistas) e condições socioeconómicas. Resultados: Os autores observaram um declínio nos escores médios de atitude em várias dimensões da escala durante a fase clínica, comparada à fase pré-clínica do currículo. Estudantes do gênero feminino obtiveram escores de atitudes mais positivos do que os do gênero masculino. Estudantes que declararam ter uma religião tiveram melhores escores do que os que se declararam ateus, agnósticos ou sem religião. Não houve correlação entre idade, estado civil e renda familiar e o desempenho atitudinal medido pela escala. Estudantes que ingressaram no curso pelo sistema de cotas expressaram maior interesse em trabalhar no sistema público de saúde. Conclusões: Houve um declínio do escore de atitude dos estudantes de Medicina com a progressão do curso. Estudantes do gênero feminino apresentaram escores de atitudes mais positivos que os do gênero masculino. Filiação religiosa parece influenciar positivamente o desempenho atitudinal dos estudantes.
ABSTRACT Introduction: Socioeconomic and demographic diversity in the educational environment and the development of professional attitudes enhance the quality of health care delivery. Despite the importance of diversity for equity and accessibility to health care, its repercussions for students’ attitudinal learning have not been adequately evaluated. Purpose: Evaluate the influence of academic sociodemographic diversity and curricular organization in the development of professional attitudes in different phases of the undergraduate medical curriculum. Method: In 2012, the attitudinal performance of 310 socioeconomically diverse medical students was evaluated by the administration of a five-point professional attitudes scale. The participants were at different points in their education at a Brazilian public school of medicine in Brasília, Federal District. The scale comprised 6 factors: communication, ethics, professional excellence, self-assessment, beliefs, social determinants; and a general factor called medical professionalism and was validated for the purpose of this research. The reliability coefficients (aCronbach) ranged from 0.65 to 0.87, according to different scale dimensions. Student diversity was analyzed according to differences in gender, age, religious affiliation, system of student selection and socioeconomic background. Results: The authors observed a decline in the mean attitude scores during the clinical phase compared to the preclinical phase of the curriculum. Female students displayed more positive attitudes than male students, and the students who declared a religious affiliation recorded higher attitude scores compared to those who declared themselves atheist, agnostic or non-religious. There was no correlation between family income or the system of student selection and the students’ attitude scores. The students who had attended public schools expressed a greater interest in working in the public health system compared to the other students. Age and marital status had no relevant effect on attitude scores. Conclusions: The attitude scores of medical students declined as the curriculum progressed. Female students had more positive attitudes than male students. Religious affiliation appeared to positively influence the observed attitude scores.