Neste artigo discuto a prática do duelo de improviso de rima no rap, conhecida como batalha de freestyle na qual, segundo os participantes o objetivo é “zoar o outro”. A partir de pesquisa realizada ao longo de dois anos na batalha da Santa Cruz, em São Paulo, analiso como os aspectos musicais e performáticos contribuem para “retirar o amargor” da zombaria. Entre eles destacam-se o uso da rima, o jogo com a sonoridade das palavras e a escansão dos versos no canto-falado típico do rap, que entre os participantes é chamado de flow. Finalmente, analisando o conteúdo discursivo dos improvisos, proponho pensar as categorias mobilizadas - tais como gênero, sexualidade, raça/cor, classe social - operando como “marcadores da diferença”, que não produzem sentido isoladamente, mas apenas nas articulações efetuadas em cada batalha.
In this article I discuss the practice of rhyme improvisation duel in rap, known as freestyle battles, in which, according to the early practitioners, the goal is to “mock the opponent”. Based on a research carried out for two years at the Battle of Santa Cruz, in São Paulo, I analyse how the musical and performance aspects contribute to “alleviate the bitterness” caused by the deride. While analysing the contents of the improvising speech, I propose to consider the mobilized categories - such as gender, age, race/color, class - operating as differential signs that yield a significance exclusively by means of the articulations achieved during each battle, and have no sense if viewed isolatedly.
Dans cet article je parle de la pratique des duels d’improvisations de rimes, connus, dans le milieu du rap, sous le nom de joutes de freestyle. D’après les participants, le but est de « se moquer de l’autre ». Sur la base d’une recherche menée pendant deux ans sur la joute du métro Santa Cruz, à São Paulo, j’analyse comment les aspects musicaux et performatifs contribuent à supprimer l’amertume de la dérision. Je parle de l’usage du rythme et de la rime dans le discours des improvisateurs, et je propose de considérer que les catégories mobilisées - tels que genre, âge, race, couleur et classe sociale - opèrent comme des repères de distinction, qui n’ont de signifiance que dans les articulations réalisées dans chaque duel.