O tema "Plantas medicinais no tratamento de dependência" em um país deve ser precedido pela resposta a quatro questões: 1. O país em questão possui biodiversidade suficiente para permitir a descoberta de remédios naturais úteis? 2. Seus habitantes possuem tradição e cultura de procurar e utilizar recursos da natureza para aliviar e curar doenças, incluindo dependência de drogas? 3. O problema de dependência de drogas está presente no país em questão? 4. Seus habitantes reconhecem e diagnosticam a dependência de drogas como um sério problema? O álcool é, de longe, o mais sério problema de saúde quando o assunto abuso de drogas é considerado, atingindo toda a sociedade brasileira, incluindo os índios. Ao contrário, outras drogas podem ser consideradas como problemas menores e não são o foco principal deste artigo. As pessoas vivendo nas terras brasileiras mais isoladas não têm acesso ao sistema público de saúde. Conseqüentemente, estas pessoas procuram tratamento com curandeiros e raizeiros; ou, no caso dos indígenas, com os shamans. Estes doutores populares não conhecem a medicina e terapêutica acadêmicas e recorrem a plantas locais para tratar as diferentes patologias que acometem seus pacientes. Entretanto, o abuso e dependência de álcool não são vistos por eles como problemas de saúde segundo as regras e critérios da medicina acadêmica. Um levantamento foi feito em diversos livros brasileiros, teses sobre fitoterapia e alguns bancos de dados. Os resultados de tal pesquisa foram frustrantes. Não foram encontrados artigos de autores brasileiros sobre o uso de plantas para o tratamento de dependência de drogas nos bancos de dados consultados e apenas três notas muito curtas em um livro clássico escrito por Shultes e Raffauf (1990). Dos livros brasileiros sobre o uso popular de plantas medicinais, foram obtidas dez menções: a maioria delas sobre o tratamento de problemas relatados ao álcool e duas delas a respeito do tratamento da dependência de "Ayahuasca".
The topic "Herbal Medicines in the Treatment of Addictions" in a country must be preceded by answers to four questions: 1. Does the country in question possess a biodiversity rich enough to allow the discovery of useful medicines? 2. Do local people have tradition and culture to look for and use resources from Nature to alleviate and cure diseases, including drug dependence? 3. Is drug dependence (or addiction) present in the country in question? 4. Do people of that country recognize and diagnose such problem as a serious one? Alcohol is, by far, the most serious health problem when drug abuse is considered, reaching all of Brazilian society, including the Indians. On the contrary, other drugs may be considered as minor problems and they are not the main focus of this manuscript. The people living in Brazilian hinterland don’t have access to public health systems. Consequently, these people seek assistance from "curandeiros" and "raizeiros"; the Indians are assisted by the shaman. These "folk doctors" do not know the academic medicine and therapeutics, and resort to the local plants to treat different ailments of their patients. Furthermore, alcohol abuse and dependence are not recognized by them, according to the rules and criteria of academic medicine. We have conducted a survey in many Brazilian books, Thesis concerning phytotherapy, and several databank. The results of such searches were very disappointing. No published papers from Brazilian authors concerning the use of plants for the treatment of addictions were found in the databases and there were only three very short notes in the masterly book written by Shultes and Raffauf (1990). From the Brazilian books on folk medicine employing medicinal plants, ten mentions were disclosed: most of them dealing with treatment of alcohol problems and two to counteract "Ayahuasca" dependence.