RESUMO: Otite externa é queixa frequente em cães. Bactérias e leveduras estão comumente envolvidas e podem perpetuar as reações inflamatórias dentro do canal auditivo. Dentre as formas de diagnóstico, encontram-se a otoscopia, o exame citológico da secreção e a cultura microbiológica. Citologia também tem grande utilidade no acesso à evolução do tratamento. A terapia consiste de limpeza dos canais auditivos e posterior utilização de antibióticos ou produtos antifúngicos. Como alguns antimicrobianos utilizados no tratamento podem causar hipersensibilidade e até mesmo ototoxicidade, a busca por novas bases farmacológicas justifica a existência deste estudo, que teve como objetivo avaliar in vitro e in vivo a eficiência do óleo de Melaleuca alternifolia em otites bacterianas e fúngicas de cães. Vinte e oito cães, de um abrigo particular, apresentando sinais clínicos de otite externa, foram incluídos neste estudo clínico. Todos passaram por avaliação clínica, citologia e cultura de material das orelhas afetadas. De cada animal, uma orelha foi tratada com óleo de Melaleuca 5% e a outra com formulação ótica padrão, de acordo com a afecção (bacteriana, fúngica ou mista). As culturas também foram submetidas a testes de susceptibilidade in vitro aos mesmos agentes utilizados no tratamento in vivo. Os resultados da cultura mostraram 62,5% de infecção mista (bacteriana e fúngica), 33,9% de infecção bacteriana e 3,6%, de infecção fúngica a partir das 56 orelhas. Os micro-organismos mais isolados foram Staphylococcus intermedius, Staphylococcus aureus, Proteus mirabilis e Malassezia pachydermatis. As bactérias GRAM-positivas foram sensíveis à gentamicina em 60,5% e resistentes em 16,3% das amostras. A formulação com 5% de óleo essencial de Melaleuca produziu uma zona de inibição de 5mm em torno dos discos em uma das 63 amostras avaliadas. A formulação pura (100%) do mesmo produto produziu uma zona de 10mm de inibição em quatro das 63 amostras analisadas, uma zona de 9 mm em três amostras, uma zona de 8mm em 16 amostras, uma zona de 7mm em sete amostras, uma zona de 6mm em duas amostras e não havia nenhuma zona clara em 31 amostras. Zonas de inibição foram produzidas por estirpes de Staphylococcus intermedius, Staphylococcus hyicus, Corynebacterium sp., Proteus mirabilis e Enterobacter sp. Clinicamente, a formulação com o óleo essencial de melaleuca induziu significativamente uma melhora nas manifestações, tanto nas otites bacterianas quanto nas causadas por leveduras, sendo estatisticamente semelhante ao tratamento com nistatina (nas otites por levedura), mas menos eficaz que a solução de gentamicina nas otites bacterianas. Mais estudos devem ser realizados para avaliar as propriedades de difusão in vitro do óleo essencial de melaleuca. O bom espectro antimicrobiano, a boa resposta clínica e a ausência de reações adversas confirmam a possibilidade de desenvolvimento de formulação ótica com o óleo essencial de melaleuca, como uma alternativa para a terapia de infecções do ouvido em cães.
ABSTRACT: Otitis externa is a common complaint in dogs. Bacteria and yeasts are commonly involved and may perpetuate inflammatory reactions inside the ear canal. Otoscopy, cytological examination of secretion and microbiological culture embody forms of diagnosis. Cytology also has great use in accessing treatment evolution. Therapy usually consists of cleaning ear canals and subsequent use of antibiotics or antifungal products. As some of them may cause hypersensitivity and even ototoxicity, searching for new pharmacological bases is currently necessary and justifies this study, which aimed to evaluate in vitro and in vivo efficacy of tea tree essential oil for bacterial and yeast ear infections in dogs. Twenty-eight dogs from a particular shelter in Cuiabá (Mato Grosso, Brazil), presenting clinical signs of otitis externa, were enrolled in this clinical trial. In all of them, clinical and cytological evaluations, as well as culture and susceptibility testing of the affected ears were carried out. From each dog, one ear was treated with 5% tea tree essential oil lotion and the other with standard otic formulation, according to the type of infection (bacterial, yeast or both). In vitro susceptibility testings of all ear cultures, to the same drugs used in treatment, were also carried out. Culture results showed 62.5% bacterial and fungal infection, 33.9% bacterial infection and 3.6% fungal infection, from the 56 ear samples collected. The most common microorganisms isolated were Staphylococcus intermedius, Staphylococcus aureus, Proteus mirabilis and Malassezia pachydermatis. Gram-positive bacteria were susceptible to gentamycin in 60.5% and resistant in 16.3% of the samples. Five percent tea tree essential oil formulation produced a 5mm clear zone of inhibition around the disks in one of the 63 samples evaluated. Pure (100%) tea tree essential oil formulation produced a 10mm clear zone of inhibition around the disks in four of the 63 samples evaluated, a 9mm zone in three samples, an 8mm zone in 16 samples, a 7mm zone in seven samples, a 6mm zone in two samples and there was no clear zone in 31 samples. Inhibition zones were produced by strains of Staphylococcus intermedius, Staphylococcus hyicus, Corynebacterium sp., Proteus mirabilis and Enterobacter sp. tea tree essential oil ear solution significantly induced remission of clinical signs both in bacterial and yeast ear infections. It also reduced as much Malassezia pachydermatis ear infection as the nystatin solution used in this study, while gentamycin solution showed better antibacterial effect. More studies should be conducted to evaluate in vitro diffusion properties of tea tree essential oil. Good antimicrobial spectrum and the absence of adverse reactions confirm the importance of developing a tea tree formulation as an alternative therapy for ear infections in dogs.