Ouadane, um pequeno oásis do Adrar mauritano, entrou recentemente na rotas da patrimonialização e do turismo, para o que também terá contribuído uma singela acção de cooperação com Portugal. Uma etnografia centrada nos novos detalhes da paisagem mas, sobretudo, em Zeida, a jovem proprietária de um albergue de sucesso, permite acompanhar o modo como o impulso do espanto, o desejo de conhecimento e a ânsia de salvação/protecção que atraem para ali turistas, cooperantes e antropólogos são transformados em recursos e apropriados localmente, de forma estratificada pela classe, raça e género. Essa apropriação objectificada justifica novas configurações sociais que, por serem aparentemente surpreendentes, reciclam a força atractiva de Ouadane. O caso de Zeida permite, paralelamente, esclarecer o modo como o Islão pode oferecer alternativas de legitimação de comportamentos individuais, face a códigos sociais rígidos e paralisantes pouco preparados para a mudança rápida.
Ouadane, a small oasis in the Mauritanian Adrar, has recently entered the touristic patrimonialization routes, partly due to a residual Portugueseproject of cultural cooperation. Through an ethnography centered in the new landscape, but essentially in Zeida (a young and successful hostel manager), will lead us into seeing how the impulse of wonder, the desire of knowledge, and the thrust for salvation/protection - attracting tourists, development agents and anthropologists - are transformed into resources and locally incorporated through class, race and gender stratifications. This incorporation arouses new social configurations that, through their apparent unexpectedness, recycle Ouadane’s attractive force. In parallel, Zeida’s case shows us how Islam can offer alternative legitimations for individual behaviors, within rigid and paralyzing social codifications, unready for quick social change.