Resumo: Diversas comunidades de pescadores se encontram atualmente distribuídas ao longo do litoral gaúcho, demonstrando que a pesca tradicional-artesanal ainda possui grande importância na região. Entretanto, apesar da riqueza histórica e sociocultural dessas comunidades, praticamente inexistem pesquisas etnoarqueológicas sobre essas populações. Neste caso, entende-se que a etnoarqueologia é um campo de estudo que possibilita a compreensão da materialidade das populações vivas. Busca-se, através desta, o estudo da mobilidade, da sazonalidade e do uso dos espaços de pesca (pesqueiros) nessa comunidade. Para tanto, a sócio-antropologia da pesca fornece o aporte necessário para compreender a dinâmica sociocultural destes grupos. Diante disso, adota-se a proposta de Antonio Carlos Diegues de que a pesca é um elemento de coesão social e que, portanto, constrói sociedades. Entende-se, nesse sentido, que a pesca não se trata apenas de uma questão produtiva, mas também da relação de vida que os pescadores possuem com estes espaços, sendo estes construídos socialmente através do conhecimento tradicional. Por meio das observações de campo realizadas até então, foi possível estabelecer um modelo de utilização dos espaços de pesca (pesqueiros) para a região em dois períodos distintos: a cheia (outono e inverno) e a vazante (primavera e verão).
Abstract: Several fishing communities are currently distributed along the "gaúcho" coast, demonstrating that traditional artisanal fishing still has great importance in the region. However, despite the historical, social, and cultural richness of these communities, there is practically no ethnoarcheological research about these populations. This article is based on the notion of ethnoarcheology, which is a field of study of the material conditions of living populations. On this basis we address questions of mobility, seasonality and the use of space for fishing (fishery) in coastal communities of Rio Grande do Sul. Furthermore, the socio-anthropology of fishing provided what was necessary to understand the socio-cultural dynamic of these groups. Consequently, we adopt the proposal of Antonio Carlos Diegues that fishing is an element of social cohesion, i.e., it builds societies. Therefore, fishing is not only a question of production, but also the relationship of fishermen with their spatial environment. These spaces represent social constructs built through traditional knowledge. Through field observations it was possible to establish a model of utilization of the fishing spaces (fishery) for the region in two distinct periods: the flood period (fall and winter) and the drought period (spring and summer).