Resumo O artigo trata dos estudos do biólogo alemão Harald Sioli sobre a esquistossomose na região de Fordlândia, às margens do rio Tapajós, no Pará, realizados no início dos anos 1950, quando integrou a equipe do Instituto Agronômico do Norte (IAN). O IAN foi criado em 1939, no bojo de uma série de iniciativas destinadas a promover o desenvolvimento de regiões brasileiras, tidas como ‘atrasadas’ e vistas como ‘vazios demográficos’, por meio da agricultura, do incentivo à migração, de obras de infraestrutura e de ações de planejamento econômico. Sioli abordou a esquistossomose a partir de uma perspectiva ecológica. Correlacionou sua incidência com fatores ambientais ligados à distribuição dos caramujos hospedeiros, a atividades humanas e aos padrões de ocupação da terra. Dessa forma, podemos filiá-lo à vertente ecológica de estudo das doenças infecciosas, mostrando que ela teve lugar no auge do otimismo sanitário e do ciclo ideológico do desenvolvimentismo.
Abstract This article addresses research conducted by the German biologist Harald Sioli on schistosomiasis in Fordlandia (on the banks of the Tapajós River in Pará) in the early 1950s, when he worked at the Instituto Agronômico do Norte (IAN). This institute was created in 1939 as part of a series of initiatives to develop Brazilian regions considered “backwards” and “demographic voids” through agriculture, encouraging migration, infrastructure projects, and economic planning policies. Sioli approached schistosomiasis from an ecological perspective, correlating its incidence with environmental factors related to the distribution of host snails, human activities, and patterns of land occupation. In this way, we can associate his work with an ecological approach to infectious diseases, showing that it was simultaneous with the zenith of sanitary optimism and the ideological cycle of developmentalism.