Resumo O Rio de Janeiro de destaca como uma das poucas cidades do Mundo Atlântico que conseguiram reunir características tão particulares e ao mesmo tempo tão reveladoras das dinâmicas globais que marcaram as últimas décadas do século XVIII e os primeiros cinquenta anos da centúria seguinte. Se por um lado sua centralidade política se fez notória com sua elevação à sede de poder colonial (1763), sua transformação em Corte do Impé- rio Lusitano (1808) e sua escolha como capital do Império do Brasil (1822), a porção “Versalhes Tropical” do Rio de Janeiro coexistiu com uma cidade que, nas palavras de um viajantes inglês, mais parecia o “coração da África”; com negros e negras de diferentes origens, executando um sem número de atividades que renderam ao Rio de Janeiro o título, pouco honroso, de maior cidade escravista das Américas. Mais do que chocar viajantes estrangeiros desacostumados com o cotidiano escravista, ou então criar práticas de “pequenas Áfricas” em seu território, a forte presença de africanos e seus descendentes sob a égide a escravidão revela mais uma faceta do Rio de Janeiro: um locus do mundo Afro-Atlântico, no qual identidades, trajetórias e sentidos de cidade estavam em disputa. O objetivo do presente trabalho é, justamente, compreender as dinâmicas políticas, econômicas e sociais que caracterizaram o Rio de Janeiro como importante centro deste mundo Afro-Atlântico e suas múltiplas vozes entre os anos de 1790 e 1815.
Abstract Rio de Janeiro stands out as one of the few cities in the Atlantic world that have managed to bring together characteristics so particular and at the same time revealing of the global dynamics that marked the last decades of the eighteenth century and the first fifty years of the next century. On the one hand, its political centrality became evident with its elevation to the thirst for colonial power (1763), its transformation into the Court of the Lusitanian Empire (1808) and its choice as the capital of the Brazilian Empire (1822), the portion “Versailles Tropical “Of Rio de Janeiro coexisted with a city that, in the words of an English traveler, more seemed the” heart of Africa “; with blacks and blacks of different origins, performing an innumerable number of activities that yielded to Rio de Janeiro the honorable title of the largest slave city in the Americas. More than harming foreign travelers unaccustomed to everyday slavery, or creating practices of “little Africa” in its territory, the strong presence of Africans and their descendants under the aegis of slavery reveals yet another facet of Rio de Janeiro: a locus of the world, in which identities, trajectories and senses of the city were in dispute. The purpose of this paper is precisely to understand the political, economic and social dynamics that characterized Rio de Janeiro as an important center of this Afro-Atlantic world