A partir do relato biográfico e literário produzido pelo sobrevivente de um campo de concentração - o judeu italiano Primo Levi -, que descreve as estratégias de interação e representação adotadas pelo narrador-sobrevivente para garantir a manutenção da vida, o presente artigo ensaia algumas reflexões sobre a Sociologia de Erving Goffman. O texto busca apreender os processos de produção da subjetividade e da individualidade no interior de uma instituição total, compreendendo o papel dos espaços sociais na construção de interações particulares, tal como aquelas que aconteceram num campo de extermínio, a partir do relato presente no livro "É isto um homem?", de Primo Levi. Essa análise nos conduz à reflexão sobre o micro e o macro na Sociologia de Goffman, bem como à indagação sobre a existência de uma teoria das instituições em sua Sociologia. Assim, ao adentrarmos essa dimensão da obra de Goffman com o auxílio da descrição da experiência de Primo Levi em uma instituição total, buscamos tanto dispor de uma narrativa diversa sobre o espaço em questão, quanto extrair alguns questionamentos para a própria concepção de Goffman, principalmente no que se refere às formas pelas quais sua Sociologia permite dinamizar as interações particulares, a história e as estruturas sociais exteriores ao território interacional. Ao que nos parece, uma análise das interações imanentes a locais delimitados não entra em contradição com a percepção e a análise dos processos sociais amplos: o campo de extermínio, por exemplo, instituiu e produziu sociabilidades próprias, das quais o entendimento, porém, não exclui a necessidade de se compreender o processo de emergência do nazismo, a história dos grupos perseguidos, bem como o sentido do Holocausto em relação ao chamado "processo civilizatório" ou a uma forma particular de racionalidade moderna.
Through the biographical and literary narrative produced by a concentration camp survivor, the Italian Jew Primo Levi, describing the strategies of interaction and representation he adopted in order to go on living, this article engages in some reflections on Erving Goffmann's sociology. It seeks to apprehend processes of the production of subjectivity and individuality within a 'total institution' through looking at the role of social spaces in the construction of particular interactions, such as those that took place within a concentration camp, as described in Levi's book, If this is a man. This analysis leads to a reflection on the micro and the macro in Goffman's sociology, as well as an inquiry into the existence of a theory of institutions within it. Thus, in looking at this dimension of Goffman's work, through the prism of Levi's description of his experience in a total institution, we seek both to access a diversified narrative on one particular social space and to raise some questions regarding Goffman's views, particularly with regard to the ways in which his sociology gives dynamism to particular interactions, history and social structures that go beyond the terrain of interaction. Thus it seems that an analysis of interactions that are immanent to particular places does not enter into contradiction with the perception and analysis of wider social processes. The concentration camp, for example, instituted and produced its own sociabilities, although understanding the latter also includes the need to understand the emergence of Nazism, the history of persecuted groups and the meaning of the Holocaust in its relationship to the "civilizing process" or a particular form of modern rationality.
A partir du récit biographique et littéraire produit par le survivant d'un camp de concentration - le juif italien Primo Levi - qui décrit ses stratégies d'interaction et représentation adoptées par le narrateursurvivant pour garantir sa vie, cet article esquisse quelques réflexions sur la Sociologie d'Erving Goffman. Le texte cherche à saisir les processus de production de la subjectivité et de l'individualité dans « une institution totale », en comprenant le rôle des espaces sociaux dans la construction d'interactions particulières, comme celles qui se sont produites dans un camp d'extermination,à partir d'un récit figurant dans le livre de Primo Levi, « Si c'est un homme ». Cette analyse nous mène à la réflexion sur le micro et le macro en Sociologie de Goffman, aussi bien qu'à la recherche sur l'existence d'une théorie des institutions dans sa Sociologie. Donc, en pénétrant cette dimension de l'oeuvre de Goffman, avec l'aide de la description de l'expérience de Primo Levi dans une institution totale, nous cherchons aussi bien à avoir un autre récit sur l'espace traité qu'à soulever quelques questions pour la conception de Goffman, surtout en ce qui concerne les formes qui permettent que sa Sociologie dynamise les interactions particulières, l'histoire et les structures sociales extérieures au territoire interactionnel. Il nous semble qu'une analyse des interactions inhérentes aux locaux délimités n'est pas contradictoire à la perception et à l'analyse des processus sociaux amples : le camp d'extermination a, par exemple, institué et produit des sociabilités propres, dont l'entendement, toutefois, n'exclut pas le besoin de comprendre le processus de la montée du nazisme, l'histoire des groupés persécutés, ainsi que le sens de l'Holocauste par rapport au dénommé « processus civilisatoire » ou à une forme particulière de raisonnement moderne.