RESUMO Objetivo: Avaliar a vitalidade endotelial das córneas classificadas como tectônicas e discutir a viabilidade de seu uso na ceratoplastia lamelar posterior. Métodos: Realizou-se uma revisão retrospectiva de todos os tecidos corneanos preservados pelo Banco de Olhos Sorocaba de janeiro a abril de 2014. Todas as córneas doadas classificadas como tectônicas foram incluídas e avaliadas com ênfase na vitalidade endotelial. Os parâmetros de avaliação da lâmpada de fenda de cada córnea e densidade de células endoteliais medidos por microscópio especular foram registrados: córneas que apresentavam vitalidade endotelial apesar de alterações no estroma e/ou no epitélio foram selecionadas e incluídas em um grupo denominado grupo lamelar posterior. O tecido endotelial foi definido como saudável e viável para a ceratoplastia lamelar posterior, se houvesse uma densidade de células endoteliais ≥2.000 células/mm2. Outros parâmetros também foram analisados, incluindo; estrias ou pregas na Descemet, perda de células endoteliais, polimegatismo e pleomorfismo endotelial, pseudo-guttata e reflexividade endotelial. Resultados: Durante o período do estudo, foram preservadas 2.847 córneas, das quais 423 (14,85%) foram classificadas como tectônicas. Dessas, 87 (20,56%) apresentaram vitalidade endotelial e foram incluídos no grupo lamelar posterior. A densidade média das células endoteliais da córnea deste grupo era de 2.471 SD ± 256 células/mm2, variando de 2.012 a 2.967 células/mm2. Conclusão: Um número significativo de córneas classificadas como tectônicas apresentaram vitalidade endotelial e foram incluídas no grupo lamelar posterior (20,56%). Apesar de alterações estromais e/ou epiteliais, estas córneas poderiam ter sido potencialmente distribuídas para transplantes lamelares posteriores com finalidade ótica, otimizando a disponibilidade de tecidos, com impacto positivo na saúde pública.
ABSTRACT Purpose: Donated corneas are classified as tectonic if there are defects within any layers of the cornea which would prevent a satisfactory visual outcome after transplantation. This study aimed to evaluate whether some tectonic corneas have sufficient endothelial characteristics to allow their use in posterior lamellar keratoplasty, and explored their reclassification for use in this sight-improving procedure. Methods: A retrospective review of all corneal tissues preserved by the Sorocaba Eye Bank from January to April of 2014 was performed. All donated corneas classified as tectonic were included. Endothelial tissue was defined as healthy and viable for posterior lamellar keratoplasty if endothelial cell density was ≥2000 cells/mm2. Additional parameters analyzed included Descemet folds and stretch marks, loss of endothelial cells, corneal endothelial polymegathism/ pleomorphism, pseudo-guttata, and reflectivity. Results: During the study period, 2,847 corneas were preserved, of which 423 (14.85%) were classified as tectonic. Of these, 87 (20.56%) were reported as having endothelial viability and were included in the posterior lamellar keratoplasty group. Average corneal endothelial cell density of this group was 2,471 SD ± 256 cells/mm2 (range 2012-2967 cells/mm2). Conclusion: A significant number of corneas classified as tectonic showed endothelial viability and were included in the posterior lamellar keratoplasty group (20.56%). Despite stromal and/or epithelial alterations, these corneas could have been potentially distributed for posterior lamellar transplantation to improve vision, thus reducing the corneal transplantation waiting period. This study highlights how corneal tissue reclassification could increase the potential amount of corneal tissue available for optical transplantation.