Resumo Passado um ano da “chegada” do novo coronavírus no Brasil, apesar dos números de infecção não apresentarem declínio, iniciou-se um processo de retomada das atividades e adaptação ao “novo normal”. É o objetivo deste artigo mostrar como uma epidemia é construída enquanto uma emergência sanitária, quais os marcadores de sua temporalidade e, principalmente, como ela se produz em um processo de obliteração e externalização de fatores que muitas vezes são inerentes aos seus efeitos. Para tanto, recuperamos a trajetória de duas experiências “epidêmicas” anteriores, vivenciadas em território brasileiro, a fome e o Zika vírus. Mostraremos, a partir dessa comparação, que a epidemia de Covid-19 deve ser entendida levando em consideração que sua trajetória é produzida conjuntamente com outras experiências de saúde e doença. Se os significados do “novo normal” estão sendo disputados, é importante trazer à luz os processos que reproduzem cotidianamente o “normal de novo”.
Abstract One year after the ‘arrival’ of the new coronavirus in Brazil, although the infection numbers did not show any decline, a process of resumption of activities and adaptation to the ‘new-normal’ has started. Thus, the main goal of this article is to show how an epidemic is built as a health emergency, what are the markers of its temporality and mainly, how it is produced in a process of obliteration and externalization of factors that are often inherent to its effects. In order to do so, we recalled the trajectory of two previous ‘epidemic’ experiences, lived in Brazilian territory, hunger and the Zika virus. We aim to show, through this comparison, that the COVID-19 epidemic needs to be understood taking into consideration that its trajectory is produced in conjunction with other health and disease experiences. If the meanings of the ‘new normal’ are being questioned, it is important to bring to light the processes reproduce daily the ‘normal anew’.