Resumo Em 1974, o conceito de burnout surgiu para nomear o esgotamento típico das profissões de cuidado. É geralmente definido como síndrome psicológica decorrente do estresse crônico laboral, composta por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização/cinismo e baixa realização pessoal. Este artigo analisa o burnout em uma perspectiva sociocultural, a partir dos referenciais teóricos de Loriol/Elias e Duarte/Dumont, investigando sua difusão através da associação conceitual com a noção de estresse laboral, ligada, por sua vez, à individualização e aos processos de medicalização/psicologização. Apesar da origem nas ciências físicas, a força da categoria estresse se deve muito menos a seu caráter técnico (teórico) que a seu aspecto simbólico. Ao promover uma linguagem comum entre biologização e psicologização, o estresse é capaz de circular nos mais diversos meios, do acadêmico ao senso comum, integrando em um código próprio ora representações psicologizadas, ora representações não psicologizadas de pessoa e perturbação. Pode assim funcionar como uma categoria “biopsicossocial”. São essas características que “abrem caminho” para a difusão social do burnout, na medida em que ele é concebido como um tipo de estresse laboral - uma experiência que se encontra, hoje em dia, extremamente difundida, sendo vivenciada como parte da vida.
Abstract In 1974, the concept of burnout was created to express the exhaustion typical of helping professions. Generally defined as a psychological syndrome resulting from chronic occupational stress, it is composed by three dimensions: emotional exhaustion, depersonalization/cynicism, and low personal accomplishment. This article analyzes burnout from a sociocultural perspective, based on the theoretical frameworks of Loriol/Elias and Duarte/Dumont, investigating its diffusion by means of a conceptual association with the idea of work stress, which may also be associated to the processes of individualization and medicalization/psychologization. Despite its origins in the physical sciences, the category “stress” owes its strength less to its technical (theoretic) character than to its symbolic aspect. By promoting a common language between biologization and psychologization, the category stress is present in many different environments, from academic discussions to common sense conversation, integrating in a particular code psychologized and non-psychologized representations of the person and of physical and moral distress. It can therefore serve as a “biopsychosocial” category. These characteristics pave the way to burnout’s social diffusion, as far as it is conceived as a type of work stress - an experience that, nowadays, is regarded as part of normal life.