O objetivo do artigo é discutir a crítica de Philonenko (1981) aos conceitos sartrianos de "má-fé" e "liberdade". Um dos pilares dessa crítica é a defesa da noção de "coerência do estilo", elemento indispensável para resguardar a autenticidade tão prezada por Sartre, segundo Philonenko. Contudo, continua este último, ao afirmar "eu não sou jamais nenhuma de minhas condutas, nenhuma de minhas atitudes", Sartre limita a liberdade por ele defendida ao horizonte de uma maliciosa dissimulação, quer dizer, da má-fé. Nós constatamos três imprecisões nessa crítica. Em primeiro lugar, a citada afirmação de Sartre foi mal interpretada. Mas, em segundo, se essa interpretação está correta, supondo que o estilo seja indispensável à autenticidade, ainda assim a liberdade sartriana não pode ser "para o mal", pois ela se caracteriza, em termos ontológicos, como o próprio ser da realidade humana "em situação", e não em termos morais, como uma propriedade dessa realidade, cristalizada por um olhar atento sobre si ou sobre o outro, e julgada como boa ou má. Por fim, queremos concluir que, numa possível conduta autêntica, a derrocada da má-fé não apenas prescinde do amparo a uma coerência do estilo como também pressupõe o reconhecimento angustiante de sua gratuidade.
The aim of this paper is to discuss the Philonenko's criticism (1981) to the sartrian's concepts of "bad-faith" and "freedom". One of the pillars of this criticism is to defend the notion of "coherence of style", an indispensable element to safeguard the authenticity so relevant for Sartre, according Philonenko. However, when Sartre says "I'm not ever any of my conduct, none of my actions", limits the freedom advocated by himself on the horizon of a malicious deception, that is, the horizon of bad- faith. We found three inaccuracies in this criticism. First, the statement aforementioned of Sartre was misinterpreted. But secondly, if this interpretation is correct, assuming that the style is essential to the authenticity, nevertheless the sartrian's freedom cannot be "for the evil" because it is characterized, in ontological terms, as the very being of human reality "in situation", not in moral terms, as a property of this reality, crystallized by a watchful eye on itself or on the other, and judged as good or bad. Finally, we conclude that, in a possible conduct authentic, the collapse of the bad faith dispenses not only the support of a coherence of style but also presupposes the anxious acknowledgment of his gratuity.