Resumo A transferência constitui um acervo de experiências emocionais revividas pelo paciente com o analista. Em pacientes de difícil acesso, as manifestações transferenciais costumam ser intensas e imprevisíveis. Este artigo tem por objetivo analisar algumas vivências transferenciais de uma paciente de 29 anos durante seu atendimento psicoterápico em um serviço-escola de Psicologia. Utilizou-se como estratégia metodológica o estudo de caso e o enfoque psicanalítico para análise dos dados. Durante o processo terapêutico em questão, o vínculo era constantemente atacado por defesas paranoides e por manifestações de angústia, que interrompiam o fluxo associativo, por vezes recuperado mediante a continência afetiva do terapeuta. Do ponto de vista transferencial, notou-se que a permanência do contato analítico desestabilizava os padrões de pensamento e condutas defensivas da paciente, o que suscitava-lhe o sentimento de que parte de seu mundo interno estava desorganizado. Em vários momentos, a paciente sinalizou estar incomodada com as interpretações. Conclui-se que, frente à potencial desorganização do mundo interno, as possibilidades interpretativas advindas da transferência devem ser manejadas com cautela pelo psicoterapeuta, para que não intensifiquem estados primitivos de fragmentação egoica.
Abstract Transference is the redirection of past emotional experiences of the patient relived in the relation with the psychotherapist. In patient who is difficult to reach, transference manifestations are usually intense and unpredictable. This study aims to analyze the transference experience of a 29-year-old woman during the course of a psychoanalytic oriented psychotherapy in an educational psychology service. A case study was used as the methodological strategy, and the psychoanalytic approach was applied to analyze the data. In therapy, the link was constantly attacked by paranoid defenses and manifestations of distress that interrupted the flow of associations, sometimes redeemed by the therapist’s emotional continence. From the standpoint of transference, the permanence of analytic contact, destabilizing the thought patterns and defensive behaviors of the patient, possibly produced the feeling that part of his inner world was in disarray because in many instances, the patient seemed to bother with the interpretations. The results indicate that considering the potential disorganization of the patient’s internal world, the possibilities of using transference interpretations should be handled carefully and with moderation by the psychotherapist so that it does not intensify the primitive states of ego-fragmentation.
Resumen La transferencia constituye una colección de experiencias emocionales revividas por el paciente con el terapeuta. En los pacientes de difícil acceso las manifestaciones transferenciales son generalmente intensas e impredecibles. Este artículo se propone analizar algunas vivencias transferenciales en una joven de 29 años con tratamiento psicoterápico de orientación psicoanalítica en un servicio escuela de Psicología. Fue utilizada como estrategia metodológica el estudio de caso y el enfoque psicoanalítico para analizar los datos. En la terapia, el enlace fue atacado constantemente por las defensas paranoides y las manifestaciones de angustia, que interrumpió el flujo asociativo a veces redimido por la continencia emocional del terapeuta. Desde el punto de vista de la transferencia, se observó que la permanencia del contacto analítico desestabilizaba los patrones los patrones de pensamiento y los comportamientos defensivos del paciente, produciéndole la sensación de que parte de su mundo interior estaba desorganizado. En varios momentos la paciente se mostró molesta con las interpretaciones. Se concluyó que, frente a la potencial desorganización del mundo interno de la paciente, las posibilidades interpretativas provenientes de la transferencia deben ser manejadas con cautela y parsimonia por el terapeuta, para que no se intensifiquen estados primitivos de fragmentación ecoica.