O objetivo deste trabalho consiste em analisar a construção do que chamamos de "modelo de Mercosul" presente na política externa brasileira, desde o início da década de 1990 até a segunda metade da década de 2000. Partindo do pressuposto de que as posições do Brasil têm um papel relevante na definição do arcabouço do processo de integração, a hipótese é que o padrão de comportamento brasileiro limita a amplitude do bloco, principalmente no que se refere à questão do seu aprofundamento, pois envolve questões como o comprometimento com as decisões tomadas, a legitimidade dos mecanismos institucionais criados, a coordenação das expectativas dos diversos atores domésticos e, principalmente, o alcance das medidas propostas para solucionar ou diminuir as assimetrias existentes entre os estados. As posições brasileiras são fundamentadas na lógica da intergovernamentalidade e são mais adaptadas à expansão do bloco do que propriamente ao seu aprofundamento. O artigo aborda os aspectos formadores do padrão de comportamento externo do Brasil e, em seguida, procura identificar as principais linhas de atuação do país em relação ao bloco no período analisado. Um dos argumentos principais do artigo diz respeito às sucessivas crises institucionais do Mercosul, procurando relacioná-las aos limites estruturais desse modelo, que é compatível com os elementos formadores da política externa brasileira, mas que não tem se mostrado suficiente para sustentar um processo de aprofundamento da integração.
Our goal here is to analyze the construction of what we refer to as the "Mercosul model" that can be identified within Brazilian foreign politics, from the beginning of the 1990s through the second half of the decade of 2000. Starting from the premise that the positions that Brazil takes are relevant in defining the framework of integration processes, we suggest the hypothesis that it is Brazilian positions that limit the breadth of the bloc and, in particular, its depth, insofar as they undermine decision making processes, the legitimacy of the institutional mechanisms that have been put into place, the coordination of the expectations of different domestic actors and, most of all, the scope of the measures that have been proposed to solve or reduce current assymmetries between states. Brazilian positions have been based on the logic of intergovernability and have been more adapted to the expansion of the bloc than to intensifying it. This article looks at the formative aspects of standards for Brazil's foreign behavior, seeking to identify major tendencies in its actions within the bloc during the period analyzed. One of our major arguments refers to Mercosul's successive institutional crises, seeking to relate them to the structural limits of the model, compatible with formative elements of Brazilian foreign policy but still insufficient for sustaining a process of intensified integration.
L'objectif de ce travail c'est d'analyser la construction de ce que nous appelons le « modèle de Mercosul » présent dans la politique extérieure brésilienne, depuis le début des années 1990, jusqu'à la deuxième moitié des années 2000. En partant de l'idée selon laquelle les positions du Brésil ont un rôle important dans la définition de la structure du processus d'intégration, l'hypothèse c'est que le modèle de comportement brésilien limite l'amplitude du bloc économique, principalement par rapport à la question de son approfondissement, car elle concerne des questions comme l'engagement avec les décisions prises, la légitimité des mécanismes institutionnels créés, la coordination des expectatives des divers acteurs domestiques e, surtout, la portée des mesures proposées pour résoudre ou diminuer les asymétries existantes entre les régions. Les positions brésiliennes sont basées sur la logique de l'intergouvernementalité, et sont plutôt adaptées à l'expansion du bloc qu'à son approfondissement. L'article aborde les aspects formateurs du modèle de comportement extérieur brésilien, et, en suite, cherche à identifier les principales lignes d'action du pays par rapport au bloc dans la période analysée. L'un des principaux arguments de l'article concerne les successives crises institutionnelles du Mercosul, cherchant les lier aux limites structurels de ce modèle, comparable aux éléments formateurs de la politique extérieure brésilienne, mais qui n'est pas suffisant pour soutenir le processus d'approfondissement de l'intégration.