Este artigo tem como objetivo cartografar a subjetividade de mulheres em situação de violência de gênero perpetrada pelo companheiro. As ferramentas para esta cartografia consistiram em uma intervenção, por meio de oficinas, onde foi utilizada a narrativa de histórias. Dez mulheres em situação de violência de gênero, atendidas na organização não governamental de mulheres negras Maria Mulher/Porto Alegre, participaram das oficinas. Foram utilizados recursos artísticos, como a confecção e pintura de máscaras, técnicas corporais e dramatizações. Este artigo focaliza três encontros: o primeiro, onde as mulheres contaram suas histórias; o segundo, onde escutaram histórias de orixás femininos; e o terceiro onde foi oportunizado espaço para uma ritualização. Observou-se que essas mulheres estão submetidas a múltiplas violências que paralisam os movimentos do desejo fazendo com que permaneçam territorializadas nos papéis de mãe, esposa e cuidadora. Por outro lado, as oficinas possibilitaram a constituição de novos territórios e devires para além da violência.
This article intends to map the subjectivity of women who are victims of gender violence perpetrated by their partners. The tools to compose this cartography consisted of a intervention, by means of a workshop where the narrative was used. The workshops were organized with the participation of ten women victims of gender violence, assisted by "Maria Mulher/Porto Alegre", which is a non-governmental organization for African Brazilian women. Artistic resources were also used, such as the manufacturing and painting of masks, physical expression exercises and dramatizations. This article focuses on three meetings of this workshop. The first one, where the women narrated their personal histories; the second one, where they were told the stories of female orixás [African-Brazilian deities]; and the third one, where space was given for the ritualization. It was observed that these women are submitted to multiple kinds of violence, which paralyzes their movements of desire, arresting and territorializing them in the roles of mother, wife and care-giver. On the other hand, the workshops made possible the constitution of new territories and possibilities of becoming beyond the violence.