Resumo Em 1756, um ano após a promulgação das primeiras leis reformadoras do futuro Marquês de Pombal para a Amazônia portuguesa, o jesuíta Lourenço Kaulen redigiu, enquanto missionário da aldeia de Piraguiri no rio Xingu, uma carta-ânua. Nela, além das atividades pastorais regulares, ele descreveu sua expulsão violenta da missão. Integrante do grupo de padres “tapuitinga”, ou centro-europeus, que vieram no início da década de 1750, Kaulen é um dos primeiros religiosos a ser acusado de desobediência à nova legislação. A carta-ânua, além de relatar o precário cotidiano numa missão remota no interior amazônico, constitui uma das primeiras referências a uma ação antijesuítica que, por sinal, contou com a implicação direta dos neófitos indígenas.
Abstract In 1756, one year after the promulgation of the first reforming laws of the future Marquis of Pombal for the Portuguese Amazon, the Jesuit Lourenço Kaulen wrote, as a missionary of the village of Piraguiri on the Xingu river, an annual letter. Beyond the regular pastoral activities, he described his violent expulsion from the mission. Member of the group of “tapuitinga”, or Central Europeans, who came at the beginning of the 1750s, Kaulen is one of the first religious to be accused of disobedience to the new legislation. The annual letter, in addition to reporting precarious everyday life in a remote mission in the Amazon, is one of the earliest references to an anti-Jesuit action that, by the way, had the direct implication of the indigenous neophytes.