RESUMO Neste artigo, apresentamos uma perspectiva crítica sobre regimes metadiscursivos da “barreira linguística” em contextos de mobilidade, no qual se discute a persistência dos pressupostos de transparência e homogeneidade herdados da razão moderno-liberal-colonial sobre nossos modelos de língua e comunicação, confrontados com práticas linguísticas heterogêneas em nossa experiência etnográfica com estudantes migrantes numa universidade pública brasileira. O artigo está dividido em três seções: inicialmente, discutimos os usos da expressão “barreira linguística” no debate acadêmico sobre línguas e migração, evidenciando sua posição metadiscursiva, para justificar ou racionalizar “desentendimentos” ou “problemas de comunicação”; em seguida, apresentamos como a noção de barreira é articulada enquanto elemento estruturante da comunicação no debate público sobre imigração no Brasil, em notícias e documentos governamentais; depois, analisamos formas metapragmáticas que emergem em interações entre estudantes migrantes participantes da nossa experiência etnográfica, quando elas avaliam e enquadram situações que poderiam ser identificadas como “barreira linguística” nos termos pressupostos pelos debates. Os resultados indicam que formas metapragmáticas, que poderiam ser identificadas como “barreira linguística”, configuram-se muito mais como “pontos de inspeção linguística”, funcionando como “paradas” interacionais de “checagem”, em que elas e/ou as/os interlocutora/es fazem uso de algum tipo de desencontro do contato linguístico para realizar ações no mundo. Concluímos que as formas interacionais resistem na fronteira da violência do modelo de comunicação moderno, desafiando seus pressupostos, ao mesmo tempo em que são tensionadas pela noção de “barreira linguística” enquanto figuração da governança das línguas e das pessoas em deslocamento ao redor do globo. linguística mobilidade modernoliberalcolonial moderno liberal colonial brasileira seções inicialmente migração metadiscursiva desentendimentos “desentendimentos problemas comunicação” seguida Brasil governamentais depois debates linguística, , configuramse configuram pontos paradas “paradas checagem, checagem “checagem” eou asos interlocutoraes interlocutora es mundo globo “checagem
ABSTRACT In this article, we present a critical perspective on metadiscursive regimes of the “language barrier” in contexts of mobility, discussing the persistence of the assumptions of transparency and homogeneity inherited from modern-colonial reason on our models of language and communication, confronting them with heterogeneous linguistic practices in our ethnographic experience with migrant students at a Brazilian public university. The article is divided into three sections. Initially, we discuss the uses of the expression “language barrier” in the academic debate on languages and migration, highlighting its meta-discursive position to justify or rationalize “disagreements” or “communication problems”. Next, we present how the notion of barrier is articulated as a structuring element of communication in the public debate about immigration in Brazil, both in the news and in government documents. Then, we analyze metapragmatic forms that emerge in interactions between migrant students who participated in our ethnographic experience, when they assess and frame situations that could be identified as a “language barrier” in the terms presupposed by the debates. The results indicate that metapragmatic forms that could be identified as a “language barrier” are configured much more as “linguistic checkpoints”, functioning as interactional “stops” of “checking”, in which they and/or the interlocutors make use of some linguistic misunderstanding to act in the world. We conclude that interactional forms resist on the borders of violence of the modern communication model, challenging its assumptions; at the same time, they are tensioned by the notion of “language barrier” as a figuration of the governance of languages and people in movement around the globe. mobility moderncolonial colonial university sections Initially migration meta discursive disagreements “disagreements problems. problems . problems” Next Brazil documents Then debates checkpoints, checkpoints , checkpoints” stops “stops checking, checking “checking” andor world model time globe “checking