RESUMO Este artigo explora a granularidade das minúcias interacionais envolvidas em promover letramento em saúde em interações médicas. Mais especificamente, explora os recursos interacionais multimodais (verbais e não-verbais) que profissionais em saúde e participantes leigas mobilizam para atribuir sentido a imagens fetais ultrassonográficas. Adotamos a perspectiva etnometodológica da Análise da Conversa Multimodal (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 1974; GOODWIN, 1981; 2010; MONDADA, 2018) para investigar 10 interações que foram gravadas em áudio e vídeo durante exames de ultrassonografia fetal, realizadas em uma ala de atendimento a gestações de médio e alto risco em um hospital público no Brasil. Nosso objetivo é ‘tornar visíveis’ os etnométodos multimodais que os/as interagentes empregam para transformar as imagens ultrassonográficas em ‘textos’ inteligíveis. Dentre os diversos recursos semióticos mobilizados para alcançar intersubjetividade, focamos nossa análise no uso que as profissionais fazem de símiles e na importância fundamental da temporalidade em que os recursos (verbais e não-verbais) são acionados no processo de tornar as imagens inteligíveis. Assim, almejamos trazer para este número temático especial as vantagens que a perspectiva analítica da Análise da Conversa Multimodal pode oferecer à discussão sobre multiletramentos e, de forma prática, ao avanço do letramento em saúde. Em contextos médicos, o letramento em saúde pode (e talvez deva!) ser uma preocupação constante. Nesse sentido, não deveria haver ‘fronteiras’ para o que constitui algo como fonte ou recurso de letramento em saúde. Assim, defendemos as seguintes posições: (i) de que imagens ultrassonográficas constituem materiais a serem ‘lidos’ e entendidos - também por participantes leigos/as; (ii) de que profissionais em saúde podem (e talvez devam) promover o letramento em saúde entre pacientes através de esforços interacionais para tornar as imagens ‘legíveis’; e finalmente, (iii) de que a interação social é um dos loci constitutivos para promoção de eventos de multiletramento.
ABSTRACT This paper explores the fine-grained interactional minutiae involved in promoting health literacy in medical interactions. More specifically, it explores the multimodal interactional resources (verbal and nonverbal) that health professionals and lay participants mobilize in order to make sense of fetal ultrasound images. We adopt the ethnomethodological perspective of Multimodal Conversation Analysis (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 1974; GOODWIN, 1981; 2010; MONDADA, 2018) to investigate 10 audio and video interactions that were recorded during fetal ultrasound exams that took place at a moderate and high-risk pregnancy ward in a public hospital in Brazil. Our aim is to ‘make visible’ the multimodal ethnomethods that interactants employ in order to render ultrasound images intelligible ‘texts’. Among the various semiotic resources mobilized to achieve intersubjectivity in this complex setting, special focus is given to the healthcare professionals’ use of similes, and the fundamental importance of the temporality in which verbal and nonverbal resources are mobilized in the process of making images intelligible. In that sense, we hope to bring to this special thematic issue the methodological advantages that a Multimodal Conversation Analytic perspective can afford to the discussion about multiliteracies and, in practical terms, to the advancement of health literacy. In medical contexts, health literacy can (and perhaps should!) be a concern ‘at all points.’ There might be no ‘borders’ to what constitutes a health literacy source or resource. Our claims, thus, are the following: (i) ultrasound images do constitute materials to be ‘read’ and understood - also by lay participants; (ii) healthcare professionals can (and perhaps should) promote health literacy among patients by employing efforts to make images ‘readable’; and, finally, (iii) social interaction is one of the constitutive loci for the promotion of multiliteracy events.