Resumo Este artigo objetiva mostrar que a experiência de turismo desenvolvida na comunidade de Anã/Santarém/Pará envolve várias relações de troca e reciprocidade, conforme a concepção de Mauss (1925/2017). Para esse autor, a dádiva é ambivalente, pois é simultaneamente, interessada e desinteressada, voluntária e obrigatória. O caráter ambivalente da dádiva foi compreendido pela noção de interesse postulada por Bourdieu (2011). A pesquisa de campo seguiu os pressupostos da pesquisa etnográfica antropológica, e o caminho metodológico foi construído a partir da concepção de Lanna (2000) sobre a “etnografia da troca”. Os dados foram coletados por observação direta e entrevistas, em dois períodos: agosto de 2016 e janeiro de 2017. Destacamos como principais resultados: a observação de cinco relações de troca entre os agentes internos e externos à comunidade de Anã, que envolvem vários tipos de “prestações”, como define Mauss (1925/2017); a interpretação do turismo como uma dádiva em ambientes sociais que ele promova a troca de bens e de sua espiritualidade de forma ambivalente; a constatação de que a comunidade não possui autonomia sobre a gestão do turismo em seu território. Consideramos que a experiência de turismo em Anã não alcançou, ainda, a condição requerida para ser considerada, de fato, de base comunitária.
Abstract This article intends to show that the tourism experience developed in the community of Anã /Santarém /Pará involves several relations of exchange and reciprocity, according to Mauss's conception (1925/2017). For this author, the gift is ambivalent, because it is both interested and disinterested, voluntary, and obligatory. The ambivalent character of the gift was understood by the notion of interest postulated by Bourdieu (2011). Field research followed the assumptions of anthropological ethnographic research and the methodological path was constructed from the conception of Lanna (2000) on the “ethnography of exchange”. The data were collected by direct observation and interviews, in two periods: August 2016 and January 2017. We highlight the main results: the observation of five exchange relationships between the internal and external agents from the Anã community, involving several types of “services” as defined by Mauss (1925/2017); the interpretation of tourism as a gift in social environments that it promotes the exchange of goods and spirituality in an ambivalent way; the finding that the community does not have autonomy over the management of tourism in its territory. We consider that the enterprise in Anã has not yet reached the condition required to be considered, in fact, community-based tourism.
Resumen Este artículo tiene por objetivo mostrar que la experiencia de turismo desarrollada en la comunidad de Anã/Santarém/Pará involucra varias relaciones de intercambio y reciprocidad, conforme a la concepción de Mauss (1925/2017). Para este autor, el don es ambivalente, pues, es a la vez, interesada y desinteresada, voluntaria y obligatoria. El carácter ambivalente de la dádiva fue comprendido por la noción de interés postulada por Bourdieu (2011). La investigación de campo siguió los presupuestos de la investigación etnográfica antropológica, y el camino metodológico fue construido a partir de la concepción de Lanna (2000) sobre la “etnografía del cambio”. Los datos fueron recogidos por observación directa y entrevistas, en dos períodos: agosto de 2016 y enero de 2017. Destacamos como principales resultados: la observación de cinco relaciones de intercambio entre los agentes internos y externos a la comunidad de Anã, que involucran varios tipos de “prestaciones”, como define Mauss (1925/2017); la interpretación del turismo como una dádiva en ambientes sociales que promueve el intercambio de bienes y de su espiritualidad de forma ambivalente; la constatación de que la comunidad no posee autonomía sobre la gestión del turismo en su territorio. Consideramos que la experiencia de turismo desarrollada en Anã no alcanzó, aún, la condición requerida para ser considerada, de hecho, de base comunitaria.