RESUMO CONTEXTO: A doença hepática gordurosa não alcoólica vem sendo diagnosticada com frequência progressivamente maior na população geral, como consequência do aumento da prevalência da obesidade e do diabetes mellitus tipo 2, considerados seus principais fatores de risco. Caracteriza-se por acúmulo de gordura nos hepatócitos associada à inflamação lobular e balonização, podendo levar à cirrose e hepatocarcinoma. Desta forma, torna-se importante a caracterização e acompanhamento do nível de fibrose hepática destes pacientes, sendo que a elastografia hepática transitória, tem se mostrado um método confiável para esta avaliação com a medida do índice kapa. OBJETIVO: Avaliar a progressão da fibrose hepática através de elastografia em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica. MÉTODOS: Foram incluídos no estudo pacientes que haviam realizado anteriormente biópsia hepática e cálculo de escores não invasivos para avaliação de esteato-hepatite não alcoólica (EHNA) e fibrose. Estes mesmos indivíduos foram então submetidos à avaliação clínica, laboratorial e exame de elastografia hepática atuais, definindo o nível de fibrose hepática, cerca de 10 anos após a primeira avaliação. RESULTADOS: Foram analisados dados relativos a 66 pacientes previamente submetidos a biópsia hepática. Destes, 16 não foram localizados, quatro não puderam participar por estarem incapacitados em função de cirrose hepática, dois haviam falecido por acidente automobilístico e cinco, por complicações de cirrose hepática. Portanto, do grupo de 50 pacientes com evolução conhecida, nove (18%) haviam falecido por cirrose ou estavam incapacitados de comparecer ao exame em função de sua doença hepática. A população restante era predominantemente do sexo feminino (61,5%), com idade média de 63 anos, apresentando sobrepeso, dislipidemia (76,9%), distúrbios do metabolismo glicêmico (76,9%) e síndrome metabólica (82,1%). Dos 39 casos avaliados, 35% tiveram o mesmo grau de fibrose na avaliação inicial (biópsia) e na avaliação atual (elastografia), 33% tiveram aumento no grau de fibrose e outros 30% tiveram diminuição no grau de fibrose. Vinte e oito pacientes apresentavam EHNA na avaliação inicial. Em relação a esses pacientes observou-se na avaliação atual que, 25% mantiveram-se estáveis no grau de fibrose, 39% progrediram e, 35% regrediram. CONCLUSÃO: Apesar de algumas limitações do nosso estudo, como o pequeno número de pacientes e o uso de dois métodos diferentes de avaliação (biópsia e elastografia), os dados obtidos nos permitem concluir que dos 39 casos avaliados, 33% apresentaram progressão da fibrose e do grupo total de 50 pacientes, 42% apresentam cirrose ou faleceram em decorrência de doença hepática. A presença de EHNA à biópsia hepática não se mostrou um dado capaz, no nosso estudo, de predizer a evolução da fibrose hepática nos pacientes.
ABSTRACT BACKGROUND: Non-alcoholic fatty liver disease has been progressively diagnosed in the general population as a consequence of the increased prevalence of obesity and type 2 diabetes mellitus, its main risk factors. It is characterized by accumulation of fat in the hepatocytes associated with lobular inflammation and balonization, which can lead to cirrhosis and hepatocarcinoma. Thus, a characterization and follow-up of a progression of the fibrosis level of these patients becomes important, being that the transient hepatic elastography is a reliable method for this evaluation with a measure of the kapa index. OBJECTIVE: To evaluate the progression of hepatic fibrosis through elastography in patients with non-alcoholic fatty liver disease. METHODS: Patients who had previously performed hepatic biopsy and noninvasive scores for non-alcoholic steatohepatitis (NASH) and fibrosis were included in the study. These same subjects were then submitted to current clinical evaluation, laboratory and liver elastography tests, defining the level of liver fibrosis, about 10 years after the first evaluation. RESULTS: Data were analyzed for 66 patients previously submitted to liver biopsy. Of these, 16 were not found, four could not participate because they were debilitated due to hepatic cirrhosis, two had died from an automobile accident and five from complications of cirrhosis of the liver. Therefore, of the 50 patients with a known history, 9 (18%) had died of cirrhosis or were unable to attend the examination because of their liver disease. The remaining population was predominantly female (61.5%), mean age of 63 years, being overweight, dyslipidemia (76.9%), disorders of the glycemic profile (76.9%), and metabolic syndrome (82.1%). Of the 39 cases evaluated, 35% had the same degree of fibrosis at the initial evaluation (biopsy) and at the current evaluation (elastography), 33% had an increase in the degree of fibrosis and another 30% had a decrease in the degree of fibrosis. Twenty-eight patients had NASH at baseline. Regarding these patients, it was observed in the current evaluation, that 25% remained stable in the degree of fibrosis, 39% progressed, and 35% regressed. CONCLUSION: Despite some limitations of our study, such as the small number of patients, and the use of two different methods of evaluation (biopsy and elastography), the data obtained allow us to conclude that of the 39 evaluated cases, 33% (13) presented progression of fibrosis and the total group of 50 patients, 42% had cirrhosis or died due to liver disease. The presence of NASH on hepatic biopsy did not prove to be, in our study, a predictive of the evolution of hepatic fibrosis in the patients.