Este artigo teve como objetivo revisitar a história de duas mulheres com Altas Habilidades/Superdotação, com idades de 47 e 50 anos, que foram identificadas já adultas e que ainda relutavam para se reconhecer, como pessoas com Altas Habilidades/Superdotação (PAH/SD). Pensamos que, escavando a história de vida delas, possamos entender algumas das razões que fazem com que as mulheres com AH/SD sejam identificadas em menor número, não reconheçam ou escondam os indicadores de AH/SD e custem a construir essa identidade específica de PAH/SD. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso, numa perspectiva longitudinal. Os instrumentos utilizados foram o QIIAHSD-Adultos aplicado em 3 oportunidades distintas - 2008, 2009 e 2011 - e uma entrevista semiestruturada. Constatamos que, nas participantes desta pesquisa, houve, ao longo dos anos, uma progressiva aceitação dos indicadores de AH/SD depois da identificação formal e, portanto de sua identidade como PAH/SD. As respostas indicam um processo de construção positivo da identidade como mulher com AH/SD, visto que, muitos indicadores que em 2008 não eram percebidos, em 2011, passam a ser incorporados no discurso e nas atitudes. Parte desse processo está alicerçado na troca com pares com AH/SD e na crescente discussão do tema; porém, é evidente que a identificação foi um fator decisivo na aceitação e reconhecimento das AH/SD por parte dessas mulheres. Esse fato nos leva a defender que, além do atendimento educacional especializado para os estudantes com AH/SD, já previsto na legislação, deveríamos pensar ainda em estratégias específicas para o atendimento à mulher com AH/SD.
This paper aims to revisit the history of two gifted women (47 and 50 years old) identified in adulthood who were still reluctant to recognize themselves as gifted persons. We considered that uncovering their life history would enable us to understand some of the reasons why the number of women identified as gifted is lower than men, why they fail to recognize themselves as gifted or why they hide their giftedness indicators and have trouble building their specific identity as gifted persons. This is a qualitative longitudinal case study. The research instruments were the QIIAHSD-Adult (Questionnaire to Identify Giftedness Indicators-Adults) applied on three separate occasions - 2008, 2009 and 2011 - and a semi-structured interview. We realized that, over the years, both participants have showed progressive acceptance of giftedness indicators after formal identification, as well as of their identity as gifted persons. Their answers revealed that they were building a positive identity as gifted women; the evidence for this is that many indicators not perceived in 2008 emerged in their discourse and attitudes in 2011. Part of this process is based upon contact and exchanges with gifted peers and increased discussion of the theme. Nevertheless, it is also clear that identification was a decisive factor in these women's acceptance and recognition of themselves as gifted. This evidence leads us to defend that, in addition to specialized educational services for gifted students, which are already assured by law, we should also think about specific strategies to nurture giftedness in women.