Resumo Baseado em documentos autobiográficos escritos por mulheres e homens negros escravizados (slaves narratives), entre fins do século XVIII e ao longo do século XIX, este artigo destaca as relações entre abolicionistas e os autores das autobiografias. Para tanto, focaliza-se os discursos e as ideologias abolicionistas e as ressignificações políticas da ideia de nação em um contexto de intenso conflito em que a escravidão, enquanto instituição, ocupava o epicentro do debate. O artigo procura, ainda, apresentar as trajetórias de autoras e autores das autobiografias, já bastante conhecidas em certas culturas historiográficas, embora ainda permaneçam sob reduzido escrutínio dos historiadores brasileiros. Grande parte dessas pessoas atuou fortemente no movimento abolicionista, realizou congressos e palestras nos Estados Unidos e na Europa e esteve envolvida nos mais calorosos debates parlamentares da época. Assim, compreender suas trajetórias tanto políticas quanto públicas é uma forma de compreender, também, como as intrincadas relações entre escravizados, libertos e abolicionistas brancos competiam e se filiavam no processo de construção da nação estadunidense; bem como a atuação de escravizados no contexto de desagregação do sistema escravista e suas lutas pela consolidação da condição de liberdade.
Abstract Based on autobiographical documents written by enslaved black women and men, from the end of the 18th and the 19th century, this paper seeks to show the relationships between abolitionists and the authors of the autobiographies. To this end, it focuses on abolitionist discourses, ideologies, and the political resignifications of the idea ofnation in a context of intense conflict, in which slavery, as an institution, occupied the epicenter of the debate. Our article also seeks to present the trajectories of authors of autobiographies, who are already well known in certain historiographical cultures, although they remain under reduced scrutiny by Brazilian historians. Most of these people acted strongly in the abolitionist movement, held congresses and lectures in the United States and Europe, and were involved in the parliamentary debates at the time. Thus, understanding their political and public trajectories is also a way of understanding how the intricate relations between enslaved, freedmen and white abolitionists competed and joined in the process of building the American nation, and the performance of enslaved people in the context of the breakdown of the slave system and their struggles for the consolidation of freedom condition.