O objetivo deste ensaio é explorar o auto-controle como alternativa às práticas de controle ou dominação da natureza, no contexto dos problemas ecológicos, primeiro pelos indivíduos, depois pela sociedade e, por fim, pela ciência. O ponto de partida é uma análise em três componentes da tese da neutralidade da ciência, uma das quais a tese da neutralidade factual reflete o caráter puramente descritivo das proposições científicas e tem uma estreita ligação com o controle da natureza. A supervalorização do controle da natureza característica da modernidade, por sua vez, é vista como parte das causas dos problemas ecológicos, cuja superação demonstra a necessidade da adoção do auto-controle, não apenas pelos indivíduos, mas ainda mais crucialmente pela sociedade, sendo o auto-controle social incompatível com a dinâmica do sistema capitalista. Na seção final, identifica-se o auto-controle no domínio da ciência com a autonomia, mostra-se como a reivindicação tradicional da autonomia, baseada na neutralidade, não mais se sustenta, em virtude dos processos de mercantilização a que a ciência é submetida. Como conclusão, propõe-se uma modalidade alternativa de autonomia, em que a ciência é colocada não acima, mas ao lado de outras formas de conhecimento e outras instituições sociais.
The aim of this essay is to investigate self-control as an alternative to the practices of control, or domination of nature, in the context of ecological problems, first by individuals, then by society, and finally, by science. The starting point is an analysis of the thesis of the neutrality of science into three components, one of which the thesis of factual neutrality reflects the descriptive character of scientific propositions, and is strongly linked to the control of nature. The high value attributed to the control of nature characteristic of modernity is in turn seen as one of the causes of ecological problems. In order to overcome those problems, it is argued that the adoption of practices of self-control is needed, not only by individuals, but also, and more crucially, by society, and that social self-control is incompatible with the dynamics of the capitalist system. In the final section, self-control in the domain of science is identified with autonomy, and it is shown that the traditional claim of autonomy, made on the basis of neutrality, is no longer tenable, given the processes of commodification to which science is subjected to. To conclude, an alternative kind of autonomy is suggested, in which science is placed not above, but at the side of other forms of knowledge and other social institutions.