Resumo O texto aborda os circuitos de sociabilidade de homens que fazem sexo com homens, na Região Metropolitana do Recife durante o primeiro ano da pandemia de COVID-19. Em março de 2020, com a chegada da doença ao Brasil, um primeiro movimento foi caracterizado pelo deslocamento das interações para a dimensão on-line. A partir de junho, após distanciamento social mais rigoroso, as interações sexuais offline, a social na casa de amigos, a volta aos bares e a sociabilidade na rua foram sendo, nessa ordem, retomadas na esteira do que acontecia na sociedade abrangente. No descompasso entre o discurso negacionista do presidente da República e o protagonismo do governo estadual em implantar as medidas de distanciamento social, nas contradições geradas pela leniência em relação à aglomeração no transporte público na ida para o trabalho e nas tentativas de contenção das aglomerações de lazer, produziu-se um novo normal caracterizado pelo negacionismo, a onipotência e o fatalismo. Entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021, o que mais se viu foram festas, circulação ostensiva das pessoas e ausência do uso de máscara, impulsionando os números de infectados e de mortos, na normalização de uma crise sanitária sem precedentes no Brasil.
Abstract The text addresses the sociability circuits of ‘men who have sex with men’ in the Metropolitan Region of Recife during the first year of the COVID-19 pandemic. In March 2020, with the arrival of the epidemic in Brazil, a first movement was characterized by the shift of interactions to the online dimension. From June onwards, after stricter social distancing, offline sexual interactions, social interactions at friends’ houses, the return to bars and sociability on the street were resumed in that order, in the wake of what was happening in the broader society. In the mismatch between the negationist speech of the President of the Republic and the role of the state government in implementing measures of social distancing; in the contradictions generated by the leniency regarding crowding in public transport on the way to and from work and the attempts to contain the crowds seeking leisure activities, a ‘new normal’ emerged and was marked by negativism, omnipotence and fatalism. Between September 2020 and February 2021, what were most evident were parties, ostensive circulation of people and the lack of mask use, boosting the numbers of the infected and the dead, in the normalization of an unprecedented health crisis in Brazil.