Tomando como parâmetro o conceito de sociedade civil elaborado pelo marxista italiano Antonio Gramsci, este artigo pretende dialogar criticamente com as demais idéias de sociedade civil que hoje buscam se afirmar no panorama político e cultural. Seu principal argumento é que, nas últimas décadas, transitou-se de uma idéia de sociedade civil como campo predominantemente político-estatal, palco de lutas democráticas e novas hegemonias, para uma imagem que converte a sociedade civil ou em recurso gerencial um arranjo societal destinado a viabilizar tipos específicos de políticas públicas , ou em fator de reconstrução ética e dialógica da vida social. Por um lado, a incorporação da idéia de participação à linguagem do planejamento fez com que a sociedade civil se deslocasse de seu campo principal (o da organização de novas hegemonias) e se convertesse num espaço de cooperação e gestão da crise. Por outro, a expansão do ativismo social, num quadro de crise da política, do Estado e da democracia representativa, impulsionou a busca de um novo "lugar", a partir do qual fosse possível estabelecer e disseminar novas postulações éticas e novos procedimentos coletivos. De uma fase em que o marxismo preponderava nas discussões e deixava sua marca, ingressou-se numa fase em que a perspectiva liberal, afirmada de modo ortodoxo ou nuançada, prevalece e opera como referência principal.
Having as parameter the concept of civil society elaborated by the Italian Marxist Antonio Gramsci, this article intends to critically dialogue with other ideas of civil society currently found in the political and cultural panorama. Its main argument is that in the last few decades there has been a change from the idea of civil society as field predominantly political-statist, placement of democratic fights and new hegemonies, to an image that turns the civil society either in some managerial resource a societal arrangement to make possible specific types of public policies or in a factor of social life ethical and dialogical reconstruction. On the one hand, the incorporation of the idea of participation to the planning language has moved the civil society from its main field (that one of organizing new hegemonies) converting it in a space of cooperation crisis management. On the other hand, the expansion of the State and representative democracy social activism, in a political crisis picture, has impelled the search for a new "place" from where it would be possible to establish and disseminate both new ethical postulations and new collective procedures. From a phase where Marxism both preponderated in discussions and left its hallmark we have ingressed into a time where the liberal perspective, stated with orthodoxy and nuance, prevails and operates as main reference.
Cet article est fondé sur le concept de "société civile" développé par le marxiste Antonio Gramsci et propose un dialogue critique avec les autres idées de la société civile qui, de nos jours, cherchent à s'affirmer dans le panorama politique et culturel. Nous nous fondons sur le fait d'être passé, au cours des dernières décennies, d'une idée de société civile prioritairement politique-publique, scène de luttes démocratiques et de nouvelles hégémonies, vers une image qui transforme la société civile soit en ressource de gestion un arrangement de la société destiné à rendre possible différents genres spécifiques de politiques publiques soit en un facteur de reconstruction étique et dialogique de la vie sociale. L'incorporation de l'idée de participation au langage de planification a déplacé la société civile de son champs principal (celui de l'organisation de nouvelles hégémonies) vers un espace de coopération et de gestion de la crise. Par ailleurs, l'expansion de l'activisme social, dans un cadre de crise politique de l'État et de la démocratie représentative a poussé vers la recherche d'une autre «place» à partir de laquelle il serait possible d'établir et de répandre de nouvelles postulations éthiques et de nouvelles procédures collectives. D'une phase où le marxisme était prépondérant et laissait sa marque, nous sommes entrés dans une phase dans laquelle la perspective libérale, affirmée de façon orthodoxe ou nuancée, prévaut et opère comme principale référence.