RESUMO O objetivo deste artigo é analisar como agiu o colonizador ibérico quando chegou ao Novo Mundo e se deparou com povos nativos de culturas muito diversas e como ignorou totalmente os costumes e tentou invisibilizar o outro. Além do mais, o texto em questão visa discutir e examinar como elementos da cultura popular portuguesa foram infiltrados e ressignificados no Brasil e como os “restos ou rejeitados” fizeram para manter viva a sua base cultural. Para fazermos tal percurso apresentaremos a lenda da Moura Encantada e a da Moura Torta, ambas europeias, e as analisaremos tendo como contraponto as narrativas de mitos indígenas, dentre eles o da Iara, de forma a demonstrar que o caldeirão cultural não foi e não é uma via de mão única e que muitos de nossos personagens mitológicos encontrados, principalmente, nas florestas do Brasil e de outros países da América do Sul, renderam histórias e aguçaram o imaginário europeu, especialmente, sobre a Amazônia e tudo que nela pode ser reinventado. Para referendar nossas análises nos valeremos dos autores Walter Mignollo, Aníbal Quijano, Edgardo Lander e Frantz Fanon.
ABSTRACT In this article we aim to analyze how the Iberian colonists behaved when they arrived in the New World and encountered native peoples of diverse cultures as well as how the colonizers completely ignored the native customs and traditions, making the “other” invisible. Furthermore, we propose to discuss and examine how the elements of the Portuguese popular culture were infiltrated and re-signified into Brazil, to understand how the “remains or rejected” were able to keep their cultural base alive. In order to go through such study, we will present the European legends of the Enchanted Moorish and the Crooked Moorish, which will be analyzed in comparison with the narratives of Indigenous myths, amongst them the myth of the Iara. We intend to demonstrate that the cultural melting pot was not and is not a one-way road but also that many of our mythological characters, found primarily in the forests of Brazil and other South American countries, rendered stories and sharpened the European imagination regarding the Amazon and all that can be reinvented in it. Decolonial thinkers such as Walter Mignolo, Aníbal Quijano, Frantz Fanon, Edgardo Lander, among others, will support our study.