A doença do refluxo gastroesofágico é uma das enfermidades mais comuns na prática médica. Numerosas diretrizes e recomendações de conduta para seu diagnóstico e tratamento tem sido publicadas em vários países, mas no Brasil ainda não havia sido realizado um trabalho de consenso baseado em padrões de Medicina baseada em evidências. Com esse objetivo, estabeleceu-se um grupo brasileiro representativo de especialistas (Grupo de Consenso da DRGE - doença do refluxo gastroesofágico) para estabelecer diretrizes de conduta de Medicina baseada em evidências para a doença do refluxo gastroesofágico que pudessem ser utilizadas tanto por médicos em cuidados primários de saúde, como por especialistas, seguradoras e agências regulatórias. Foram propostas 30 questões e a busca das respostas baseou-se em pesquisa sistemática da literatura para a identificação dos temas e respectivos graus de evidência. Foram selecionadas 11.069 publicações sobre doença do refluxo gastroesofágico, das quais 6.474 sobre diagnóstico e 4.595 sobre terapêutica. Em relação ao diagnóstico, 51 trabalhos alcançaram as exigências de Medicina baseada em evidências: 19 foram classificadas como grau A e 32 como grau B. Em relação à terapêutica, 158 alcançaram as exigências de Medicina baseada em evidências: 89 foram classificadas como grau A e 69 como grau B. No item Diagnóstico as respostas sustentadas por publicação de graus A e B foram aceitas. No item Tratamento, somente publicações grau A foram aceitas: as respostas apoiadas por publicações grau B foram submetidas a votação pelo Grupo de Consenso. A presente publicação apresenta as respostas às questões propostas com os trabalhos mais representativos seguidos por comentários pertinentes. Exemplos: 1) em pacientes com manifestações atípicas a pHmetria convencional pouco contribui para o diagnóstico de doença do refluxo gastroesofágico. A sensibilidade, entretanto, aumenta com o emprego de pHmetria de duplo canal. 2) Em pacientes com manifestações atípicas a impedância-pHmetria contribui substancialmente para o diagnóstico de doença do refluxo gastroesofágico. O exame, entretanto, é oneroso e pouco disponível em nosso país. 3) A avaliação dos sinais histológicos de esofagite eleva a probabilidade diagnóstica da doença do refluxo gastroesofágico, considerando-se que a observação das dimensões do espaço intercelular da mucosa esofágica aumenta a probabilidade de certeza diagnóstica e também permite a análise da resposta terapêutica. 4) Não há diferença na resposta clínica ao tratamento com inibidor da bomba protônica administrado em duas doses diárias quando comparado a uma única dose diária. 5) A longo prazo (>1 ano) a erradicação do H .pylori em pacientes com doença do refluxo gastroesofágico não reduz a presença de sintomas ou a elevada recurrência da enfermidade, embora reduza os sinais histológicos de inflamação. É muito provável que não ocorra associação entre a erradicação do H. pylori e as manifestações da doença do refluxo gastroesofágico. 6) A presença de hérnia hiatal exige doses maiores de IBP para o tratamento clínico. A ocorrência de migração permanente da junção esôfago-gástrica e as dimensões da hérnia (>2 cm) são fatores de pior prognóstico na doença do refluxo gastroesofágico. Nesses casos, as hérnias hiatais associadas à doença do refluxo gastroesofágico, especialmente as fixas e maiores do que 2 cm devem ser consideradas para tratamento cirúrgico. Os resultados da fundoplicatura laparoscópica tem se mostrado adequados.
Gastroesophageal reflux disease (GERD) is one of the most common disorders in medical practice. A number of guidelines and recommendations for the diagnosis and management of GERD have been published in different countries, but a Brazilian accepted directive by the standards of evidence-based medicine is still lacking. As such, the aim of the Brazilian GERD Consensus Group was to develop guidelines for the diagnosis and management of GERD, strictly using evidence-based medicine methodology that could be clinically used by primary care physicians and specialists and would encompass the needs of physicians, investigators, insurance and regulatory bodies. A total of 30 questions were proposed. Systematic literature reviews, which defined inclusion and/or exclusion criteria, were conducted to identify and grade the available evidence to support each statement. A total of 11,069 papers on GERD were selected, of which 6,474 addressed the diagnosis and 4,595, therapeutics. Regarding diagnosis, 51 met the requirements for the analysis of evidence-based medicine: 19 of them were classified as grade A and 32 as grade B. As for therapeutics, 158 met the evidence-based medicine criteria; 89 were classified as grade A and 69 as grade B. In the topic Diagnosis, answers supported by publications grade A and B were accepted. In the topic Treatment only publications grade A were accepted: answers supported by publications grade B were submitted to the voting by the Consensus Group. The present publication presents the most representative studies that responded to the proposed questions, followed by pertinent comments. Follow examples. In patients with atypical manifestations, the conventional esophageal pH-metry contributes little to the diagnosis of GERD. The sensitivity, however, increases with the use of double-channel pH-metry. In patients with atypical manifestations, the impedance-pHmetry substantially contributes to the diagnosis of GERD. The examination, however, is costly and scarcely available in our country. The evaluation of the histological signs of esophagitis increases the diagnostic probability of GERD; hence, the observation of the dimensions of the intercellular space of the esophageal mucosa increases the probability of diagnostic certainty and also allows the analysis of the therapeutic response. There is no difference in the clinical response to the treatment with PPI in two separate daily doses when compared to a single daily dose. In the long term (>1 year), the eradication of H. pylori in patients with GERD does not decrease the presence of symptoms or the high recurrence rates of the disease, although it decreases the histological signs of gastric inflammation. It seems very likely that there is no association between the eradication of the H. pylori and the manifestations of GERD. The presence of a hiatal hernia requires larger doses of proton-pump inhibitor for the clinical treatment. The presence of permanent migration from the esophagogastric junction and the hernia dimensions (>2 cm) are factors of worse prognosis in GERD. In this case, hiatal hernias associated to GERD, especially the fixed ones and larger than 2 cm, must be considered for surgical treatment. The outcomes of the laparoscopic fundoplication are adequate.