Resumo Este artigo analisa os trabalhos de revendedoras de itens de vestuário que distribuem ao redor do país bens comercializados na Feira da Madrugada, localizada na região central de São Paulo (SP). Discute os sentidos subjetivos atribuídos a essa atividade e o conjunto de habilidades específicas necessárias para tecer esse circuito. Vale-se, para tanto, da etnografia e de entrevistas realizadas na região. Ao distribuir as mercadorias e os símbolos da moda popular, lojistas e sacoleiras também produzem sentido para suas trajetórias pessoais, revelando um sentido de dignidade e realização em relação à atividade comercial, dependente do domínio de um conjunto de habilidades e conhecimento local, muito além das capacidades genéricas de cálculo descritas pela sociologia econômica contemporânea. Essas práticas desafiam as representações apontadas pela literatura para o engajamento feminino no trabalho por conta própria e para comerciantes itinerantes em geral.
Abstract This article analyses the work of clothing item retailers that distribute goods sold at the Night Market (Feira da Madrugada), located in the central São Paulo region (SP) around the country. It discusses the subjective meanings attributed to this activity and the set of specific skills required to weave this circuit. To this end, it employs ethnography and interviews conducted in the region. By distributing goods and popular fashion symbols, shopkeepers and sacoleiras (traveling saleswomen) also produce meaning for their personal trajectories, revealing a sense of dignity and fulfillment in relation to the trading activity, dependent on the mastery of a set of skills and local knowledge, far beyond the generic calculus capabilities described by contemporary economic sociology. These practices challenge the representations pointed out in the literature for female engagement in self-employment and for traveling merchants in general.
Résumé Cet article examine les activités des revendeuses d’articles d’habillement qui redistribuent dans tout le pays des produits achetés à la Feira da Madugrada, un marché de la région centrale de São Paulo. Sur la base de données ethnographiques et d’entretiens réalisés dans la région, il analyse les significations subjectives de ce travail ainsi que les compétences spécifiques nécessaires pour tisser ce circuit. En distribuant les marchandises et les symboles de la mode populaire, les commerçants et les démarcheuses donnent également un sens à leurs trajectoires personnelles ; le sentiment de dignité et d’accomplissement professionnel dépend de la maîtrise d’un ensemble d’habiletés et de connaissances locales, très au-delà des capacités génériques de calcul décrites par la sociologie économique contemporaine. Ces pratiques remettent en question les représentations soulignées dans la littérature sur l’engagement des femmes dans le travail indépendant et sur les travailleuses du commerce ambulant en général.