Esta pesquisa visa analisar as representações que os "meninos de rua" elaboram sobre si mesmos confrontadas às representações que estudantes universitários em formação profissional em ciências sociais, constroem sobre os "meninos de rua". Utilizamos o multimétodo, qualitativo e quantitativo, para coleta e análise de dados. Aplicamos o teste de associação livre a uma amostra de 178 sujeitos, organizados em dois grupos ("meninos de rua" e estudantes universitários) distintos por sexo e idade. Os dados coletados foram processados através do soft Tri-Deux Mots, e foi realizada a análise fatorial de correspondência entre os dois grupos sobre um total de 2.535 palavras. A metodologia consta também de entrevistas em profundidade e semi-estruturadas realizadas com sujeitos de ambos os grupos. Os resultados revelam uma oposição representacional quanto ao conteúdo e à estrutura entre os "meninos de rua" e os estudantes universitários. No que concerne à estrutura da representação, graficamente fica revelado que ambos os grupos se colocam em posições de distanciamento com relação ao "menino de rua". Quanto ao conteúdo, os estudantes universitários constroem uma representação política e psicossocial a respeito do "menino de rua". No que concerne aos "meninos de rua" que entrevistamos, existe uma nítida diferenciação entre a identidade que eles constroem de si mesmos e a representação que elaboram a respeito dos "meninos de rua". É atribuída a esses últimos uma ação de criminalidade e marginalidade. Os resultados evidenciam a tese de que "a necessidade de se diferenciar da minoria, para não ser assimilado a ela, é tanto mais necessária quanto mais se sente próximo a ela". Assim são representados os "meninos de rua" por eles próprios, com fortes tonalidades de violência e criminalidade vivenciadas no cotidiano, seja pela negligência governamental no incremento de políticas sociais, como representam os estudantes universitários, seja pela tênue separação entre a vida e a morte vivenciada pelo "menino de rua" que tenta driblar a possibilidade letal, deslizando como equilibrista sobre o fio da navalha cortante do seu cotidiano.
This present research aims to analyze the comparison between the "street boys" and social science university students' representations about the street boys. The multi-method, qualitative and quantitative, was used for data collection and analysis. The free association test was applied in 178 subjects divided in two groups ("street boys" and university students), distinguished by sex and age. The collected data was processed by the soft Tri-Deux Mots, and the factorial analysis of the groups correlation was done over a total of 2.535 words. The methodology also includes semi-structured interviews with subjects from both groups. The results reveal a substantial opposition between the "street boys" and the university students' representation in regard to the content and structure. Regarding to the representation structure, it is graphically revealed that both groups put themselves away from the "street boys". From the content perspective, the university students have presented a political and psychosocial representation about the "street boys". The "street boys" interviewed have presented a significant and different concept between the identity they have built about themselves and the "street boys" representation, whose reference is the criminal and marginal actions. The results have supported the differentiation need thesis, that points out as closer you are from the minority, as necessary it is to be different from that, not to be considered its member. Thus, the "street boys" describe themselves throught strong violence and criminal nuances, which are part of their daily routines, whether due to government negligence to the social politics increasing or to the slight limit between life and death for those who live on the streets and try to deal with the risk, as a tightrope walker sliding on the razor's edge of his everyday life.