RESUMO O Brasil oferece o melhor exemplo de um país que nasceu do encontro das diversidades étnicas e culturais. Povos indígenas, primeiros habitantes da terra que se tornou Brasil; aventureiros e colonizadores portugueses; africanos deportados e aqui escravizados; imigrantes europeus de diversas origens étnicas e culturais e imigrantes asiáticos, todos formam as raízes culturais do Brasil de hoje. Sem dúvida, os sangues se misturaram como continuam a se misturar. Os deuses se tocaram e as cercas das identidades se aproximaram. No entanto, as resistências identitárias dessas matrizes culturais formadoras do Brasil continuam a se manifestar, influenciando a vida cotidiana de todos os brasileiros indistintamente. Por outro lado, os preconceitos culturais, apesar da mestiçagem, não deixaram de existir como ilustrado hoje pela chamada intolerância religiosa e pelos preconceitos raciais que estão correndo soltos até nos campos de futebol. A questão fundamental que se coloca é como ensinar a história desses povos que na historiografia oficial foi preterida e substituída pela história de um único continente, silenciando a rica diversidade cultural em nome de um monoculturalismo justificado pelo chamado sincretismo cultural ou mestiçagem, quando na realidade o que se ensina mesmo é a Europa com sua história e sua cultura. Aqui se coloca a importância de uma educação multicultural que enfoque nossa rica diversidade ao incluir na formação da cidadania a história e a cultura de outras raízes formadoras do Brasil. As leis 10 639/03 e 11645/08 que tornam obrigatório o ensino da história do continente africano, dos negros e povos indígenas brasileiros têm essa função reparatória e corretora.
ABSTRACT Brazil offers the best example of a country that was born of the encounter of ethnic and cultural diversities. Indigenous people, first inhabitants of the land that became Brazil; adventurers and Portuguese settlers; deported Africans and here enslaved; European immigrants of several ethnic and cultural origins and Asian immigrants, all form the cultural roots of Brazil today. Without a doubt, bloods were mixed and they continue to mix. The limits of identities approached. However, the identity resistances of these cultural matrixes, that shape Brazil, continue to manifest, influencing the daily life of all Brazilians, indistinctively. On the other hand, the cultural prejudices in spite of the crossing of races didn't stop existing, as illustrated today by the religious intolerance and the racial prejudices that are running loose even in the soccer fields. The fundamental question is how to teach the history of these people that was ignored in the official historiography and substituted by the history of a single continent, silencing the rich cultural diversity on behalf of monoculturalism, justified by the so called cultural syncretism or crossing of races, when in reality, Europe, her history and culture is taught. Here the emphasis is on the importance of a multicultural education, that focuses on our rich diversity when including in the formation of the citizenship, the history and culture of other roots forming Brazil. The laws 10.639/03 and 11.645/08 that make obligatory teaching history of the African continent, of negros and Brazilian indigenous people, have this corrective and repairing function.