Este trabalho apresenta o caso de Jairo. Nascido em Florianópolis, negro, filho de uma empregada doméstica, Jairo testemunha, em sua história de vida, a exclusão econômica, social e racial: na infância, abandona a escola na quarta série sem ter sido alfabetizado; na adolescência, trabalhando na construção civil e biscates, não se adapta ao mundo do trabalho e, aos poucos, se inicia nas contravenções e pequenos crimes (uso de drogas, pequenos furtos). Aos 19 anos é preso (espancado), julgado e condenado a 17 anos de prisão por haver espancado, roubado e estuprado uma turista (branca, classe média) entre as dunas próximas à sua casa quando esta voltava da praia. Mesmo considerando-se o caso como exemplar das mais bárbaras formas de violência contra a mulher, as quais se pretende combater, a abordagem deste trabalho está focada em outra questão. Esse caso dá visibilidade a uma determinada dimensão das relações entre nativos e estrangeiros no cenário paradisíaco das praias de Florianópolis: a dimensão violenta dessas relações - para as quais concorrem (em certos casos, cumulam) os aspectos raça, cultura, classe e gênero.
This study discusses the case of Jairo. Born in Florianópolis, black, a domestic servant's son, Jairo experiences lifelong economic, social, and racial exclusion: during childhood he drops out of school in the fourth grade before even learning how to read and write; as a teenager, working in construction and odd jobs, he fails to adapt to the world of work and gradually gets involved in misdemeanors (drug use, petty theft). At 19 he is arrested (beaten), tried, and convicted to 17 years in prison for having assaulted, robbed, and raped a white middle-class tourist in the dunes near his house, when she was walking back from the beach. Even while agreeing that the case illustrates one of the most barbarous forms of violence against women, and one that must be combated, the current article focuses on another issue. This particular case highlights a given dimension of relations between locals and foreigners in the paradisiacal beach landscape of Florianópolis, namely the violent side of these relations, in which race, culture, class, and gender aspects converge (and in some cases accumulate).