Resumo: Este artigo analisa Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, um livro seminal na tradição ensaística brasileira. A discussão começa com os limites da busca da especificidade nacional no Brasil, de modo a considerar a formação cultural brasileira como uma projeção de suas raízes ibéricas. Neste contexto, o “homem cordial” emerge como uma metáfora para a falta de espaço público no Brasil. Por um lado, o homem cordial é um produto dos debates na virada do século sobre o excepcionalismo latino-americano, uma figura quase capaz de suportar as desilusões do mundo moderno. Por outro lado, o homem cordial oferece uma janela a Buarque de Holanda para os limites do liberalism democrático e as tradições personalistas da América Latina: um impasse discutido extensivamente, mas nunca resolvido em Raízes do Brasil. Em última instância, o livro permite um questionamento mais profundo das pulsões coletivas e dos desejos individuais que, juntos, formam a matéria a que o populismo iria responder, uma forma política temporariamente capaz de atender as expectativas das pessoas.
Abstract: This article analyzes Sérgio Buarque de Holanda’s Roots of Brazil (1936), a seminal book in the Brazilian essayist tradition. Discussion begins with the limits of Brazil’s search for national specificity, so as to consider Brazilian cultural formation as a projection of its colonial Iberian roots. In this context, the “cordial man” emerges as a metaphor for the lack of public space in Brazil. On the one hand, the cordial man is a product of turn-of-the-century debates on Latin American exceptionalism, a figure almost capable of withstanding the disillusions of the modern world. On the other hand, the cordial man offers Buarque de Holanda a window into the limits of democratic liberalism and the personalistic political traditions of Latin America: an impasse discussed at length but never resolved in Roots of Brazil. Ultimately, the book permits a deeper questioning of the collective pulses and individual desires that, together, form the matter to which populism would respond, a political form temporarily capable of meeting the people’s demands.