Este texto versa sobre o Jornal Boca de Rua, periódico confeccionado por moradores de rua da cidade de Porto Alegre. Procura-se nele relacionar a posição subversiva destes moradores de rua com a lógica do capitalismo contemporâneo em três instâncias - espaço urbano, mídia e consumo -, trabalhando seus detalhes, implicações, ambivalências e comentando seus resultados parciais. A resistência espacial é tida como a própria maneira do morador de rua habitar a urbe - seja como morador, seja como vendedor -, ou seja, a reinvenção dos desvalidos vãos da cidade. A resistência midiática, por sua vez, é caracterizada pela construção de um meio de dispersão alternativo ao mass-mídia, possibilitando a um grupo emitir palavras e imagens sobre si e fazê-las agenciáveis em circuitos antes não alcançados. A resistência do consumo, por fim, dá-se na possibilidade do deslocamento da posição de pedinte para a de prestador de serviço, o que, em última análise, possibilita outros modos de inserção do morador de rua nas tramas da sociedade atual.
This text is about Jornal Boca de Rua, a periodical made by homeless people of Porto Alegre. Its aim is to establish a relation between the subversive position of these people and the logic of contemporary capitalism in three different ways - urban space, media and consumption -, working on the details, implications, ambiguities and commenting on the partial results. Spatial resistance is seen as a way the homeless inhabit the city, either as an inhabitant or as a salesperson, which means reinventing valueless empty spaces of the city. Media resistance is characterized by the construction of an alternative diffusive medium from that of mass-media, giving the opportunity for this group to publish their works and placing them in spaces never imagined before. Consumption resistance, finally, becomes possible when the homeless render services instead of begging, offering other ways for them to be included in the web of contemporary society.