Dentre os desafios atuais da educação médica, encontra-se a inserção curricular de conteúdos e experiências educacionais voltados para o desenvolvimento de competências afetivas. A literatura tem indicado um declínio gradual do idealismo e humanismo do estudante ao longo do curso, indício de erosão do currículo médico. O objetivo deste estudo foi avaliar o desenvolvimento de competências afetivas e empáticas dos estudantes do curso de Medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), por meio da análise de 39 narrativas produzidas por estudantes da segunda e terceira séries em 2010. A análise de conteúdo baseou-se na epistemologia qualitativa, com base na qual foram estabelecidas três categorias: ritual de iniciação do estudante: vivências e dificuldades; vivências emocionais no decorrer da formação médica; benefícios pedagógicos da medicina narrativa: os desafios do desenvolvimento da empatia. A segunda série pareceu representar para os estudantes uma fase de adaptação ao contexto hospitalar, vista a necessidade de exteriorização dos próprios conflitos e de suas barreiras emocionais. Na terceira série, observou-se melhor desenvolvimento tanto de habilidades empáticas quanto de uma visão mais integral da condição dos pacientes e seus dramas. Conclui-se que a medicina narrativa foi uma abordagem efetiva para o aprendizado da empatia e da competência afetiva nos estudantes de Medicina, além de instrumento válido em nosso meio para avaliação de competências empáticas e humanísticas. A progressiva adesão dos estudantes legitima e consolida a medicina narrativa no espaço curricular, revalorizando a formação médica em suas práticas intersubjetivas. Entretanto, este estudo aponta a necessidade de novas investigações, utilizando-se métodos mistos para melhor compreensão do impacto dessa abordagem a longo prazo.
One of the current challenges of medical education is the problem of integration of curricular content and educational experiences focused on the development of affective skills. The literature indicates a gradual decline of idealism and humanism on the part of the student throughout the course, as well as evidence of erosion of the medical curricula. This qualitative and exploratory study aims to assess the development of affective and empathic skills of medicine students, at the School of Health Sciences (ESCS), through the analysis of thirty-nine narratives produced by second and third year students in 2010. The content analysis was based on Qualitative Epistemology, from which three categories were established: the initiation ritual of students, their experiences and difficulties; their emotional experiences during medical training; and the pedagogical benefits of narrative medicine and the challenges of developing empathy. The 2nd year seemed to represent an adaptation phase to the hospital setting for the students, in view of the need to externalize their own conflicts and emotional barriers. In the 3rd year, there was a better development of empathic abilities, as they grasped a more comprehensive view of the condition of patients and their dramas. We conclude that narrative medicine has been an effective approach for the learning of empathy and emotional competence in medical students, and a valid instrument for assessing empathic and humanistic skills in our context. The gradual adherence of students legitimizes and strengthens narrative medicine in our curriculum, revaluing medical training in their intersubjective practices. However, this study points to the need for further research using mixed methods in order to gain a better understanding of the long-term impact of this approach.