O presente artigo parte do dilema apontado na conferência de Canguilhem Que é a Psicologia? de 1956, a fim de mostrar sua atualidade e também que é possível acrescentar-lhe as problematizações contemporâneas que tratam da psicologização e da neurocientifização dos atuais processos de subjetivação. O que temos feito de nossas vidas e de nossas práticas e como agir livremente perante a ameaça crescente de robotização e de cerebralização dos modos de subjetivação? A fim de não ficarmos paralisados frente a tais impasses, sugerimos caminhos possíveis a partir do encontro com Kierkegaard e Foucault, filósofos que se inscrevem, para usar a expressão foucaultiana, em uma via de experimentação não metafísica, caminho esse que já foi bastante privilegiado se voltarmos o olhar para a Filosofia antiga dos exercícios espirituais, porém, que foi sendo esquecido aos poucos pela tradição filosófica ocidental. Uma psicologia experimentante é, por fim, sugerida como caminho possível, na tentativa de reconhecer e/ou de evitar os perigos inicialmente apontados. Sabendo-se que não se pode eliminá-los do cotidiano das práticas psi, pode-se ao menos estar mais atento aos mesmos, sendo esse o objetivo do presente texto.
The present paper is part of the dilemma mentioned in the 1956 conference of Canguilhem entitled “What is psychology?” It aims at showing the dilemma’s present relevance as well as its contemporary problematization, which deals with the processes of psychologization and neuroscientificization of current subjecticization processes. What have we been doing with our lives and our practices and how can we act freely before the ever growing threat of robotization and cerebralization of the processes of subjectivization? In order not to be paralyzed by such deadlocks, we suggest possible paths departing from encounters with Kierkegaard and Foucault, philosophers who are inscribed, to use the foucaultian expression, in a route of non-metaphysical experimentation. Such route has been privileged and it can be seen if we focus back on the ancient western philosophy of the spiritual exercises, which has been, however, neglected by the western philosophical tradition. Finally, an experiential philosophy is proposed as a possible alternative in an attempt to recognize and/or avoid the “dangers” mentioned in the beginning. Knowing that it is not possible to eliminate them from the daily psi practices, it is at least feasible to be more aware of them, and this is the final aim of the present paper.
El presente artículo parte del dilema apuntado en la conferencia de Canguilhem ¿Qué es la Psicología? de 1956, a fin de mostrar su actualidad y también que es posible acrecentarle las problematizaciones contemporáneas que tratan de la psicologización y de la neurocientifización de los actuales procesos de subjetivación. ¿Qué hemos hecho de nuestras vidas y de nuestras prácticas y cómo actuar libremente ante la amenaza creciente de robotización y de cerebralización de los modos de subjetivación? A fin de no quedarnos paralizados frente a tales impases, sugerimos caminos posibles a partir del encuentro con Kierkegaard y Foucault, filósofos que se inscriben, para usar la expresión foucaultiana, en una vía de experimentación no metafísica, camino ése que ya ha sido bastante privilegiado si volvemos la mirada hacia la Filosofía antigua de los ejercicios espirituales, pero, que fue siendo olvidado poco a poco por la tradición filosófica occidental. Una psicología experimentadora es, por fin, sugerida como camino posible, en la tentativa de reconocer y/o de evitar los peligros inicialmente apuntados. Sabiéndose que no les se puede eliminar del cotidiano de las prácticas psi, se puede al menos estar más atento a los mismos, siendo ése el objetivo del presente texto.