Resumo O presente artigo analisa, sob a abordagem pós-estruturalista e no quadro de uma sociologia do inconsciente, a constituição da subjetividade política mediada pelas tecnologias digitais. Trata-se de uma investigação eminentemente teórica, sem intuito de revisão bibliográfica sobre mídias, que recupera pressupostos fundantes das ciências sociais e da psicanálise para questionar a noção corrente, segundo a qual as mídias digitais, por si mesmas, produziriam novas subjetividades. Para tanto, a pesquisa desvia levemente o olhar dos aplicativos, plataformas e algoritmos, para privilegiar seus contornos, as relações sociais que são o objeto primordial da análise sociológica. Expressões de contextos históricos, econômicos, sociais e culturais mais abrangentes, porém dotadas de alguma margem de liberdade, as relações sociais, em última instância, seriam capazes de determinar as referências tempo-espaciais dos indivíduos e possibilitar o descentramento, condição da constituição subjetiva. É por meio de seus usos, e das relações que as constituem, que as mídias digitais condensam as características de seu tempo (primazia da categoria espaço, instantaneidade, simultaneidade, imanência, fragmentação, ausência de profundidade), assim como guardam a potencialidade de transcendê-lo.
Abstract Based on a post-structuralist approach and under the framework of a sociology of the unconscious, this paper analyzes the constitution of political subjectivity mediated by digital technologies. This largely theoretical study, with no bibliographic review on media, resumes key assumptions of social sciences and psychoanalysis to question the current notion that digital media, by itself, would produce new subjectivities. Hence, the research slightly diverts its gaze from the applications, platforms and algorithms, to privilege their environs-the social relations that are the primary object of sociological analysis. Expression of more comprehensive historical, economic, social and cultural contexts, but gifted with some margin of freedom, social relations would ultimately be able to determine the time-spatial references of individuals and enable the decentering, condition of the subjective constitution. It is through their uses, and by the relations that constitute them, that digital media condense the characteristics of their time (primacy of the space, instantaneity, simultaneity, immanence, fragmentation, lack of depth), as well as hold the potentiality to transcend it.