RESUMO Este artigo se propõe, em primeiro lugar, a discutir, a partir das lentes de Street (1984; [1995]2014; 2003; 2010; 2012), as práticas contemporâneas de letramento em que jovens leitores e escritores de fanfics se engajam quando inseridos em espaços de afinidade da literatura de fãs. Essa discussão apoia-se no conceito de letramento ideológico proposto pelo autor e dialoga com a concepção de multiletramentos, delineada pelo Grupo de Nova Londres (CAZDEN; COPE; et al, 1996) e expandida por diversos autores como Cope; Kalantzis (2000), Gee (2000), Rojo (2012) e Kleiman; Sito (2016), dentre outros. Compreendidas, portanto, como o uso social da linguagem, essas práticas contemporâneas de letramento foram estudadas em uma perspectiva etnográfica (HEATH; STREET, 2008). Os dados foram gerados a partir da observação no campo virtual de duas plataformas de auto publicação de fanfics e a partir dos eventos de letramento ocorridos nas rodas de conversa, no âmbito do Programa de Apoio a Projetos de Iniciação Científica Jr. (PICJr-049), promovido por uma instituição federal de educação básica no Rio de Janeiro. Os modelos sociais de letramento a que os participantes recorrem nos eventos de letramento (HEATH, 1982; STREET, 2012) sinalizam que os designs são (re)desenhados de acordo com o contexto interacional desses participantes. Em um segundo momento, se propõe a refletir sobre as ideologias linguísticas presentes nos enunciados dos estudantes participantes do PICJr-049. Essa reflexão é orientada pelo conceito de ideologia concebido por Volóchinov ([1929]2017) e pela noção de ideologia linguística, conforme discutida nos estudos de Woolard (1998) e Kroskrity (2004). Na análise desses enunciados, foram observados posicionamentos que reforçam ideologias ancoradas na legitimação da norma culta da língua portuguesa e no privilégio dos cânones literários nas práticas de letramento escolar.
ABSTRACT Using the lens of Street (1984; [1995]2014; 2003; 2010; 2012), this article firstly aims at discussing the contemporary literacy practices young readers and writers of fanfics engage in when inserted in the affinity spaces of fan literature. This discussion is based on the concept of ideological literacy proposed by the author and dialogues with the concept of multiliteracies, outlined by the New London Group (CAZDEN; COPE et al, 1996) and expanded by several authors such as Cope; Kalantzis (2000), Gee (2000), Rojo (2012) and Kleiman; Sito (2016), among others. These contemporary literacy practices, understood, therefore, as the social use of language, were studied from an ethnographic perspective (HEATH; STREET, 2008). Data was generated from the field observation on two fanfic self-publishing platforms and from literacy events occurring in rounds of conversation, within the scope of the Junior Scientific Initiation Project. (PICJr-049), promoted by a traditional federal institution of basic education in Rio de Janeiro. The social models of literacy used by participants in literacy events (HEATH, 1982; STREET, 2012) signals that designs are (re)shaped according to the interactional context of these participants. This article also proposes a reflection on the language ideologies underlying the discourse of the students participating in the PICJr-049. This analysis is oriented by Volóchinov’s concept of ideology ([1929]2017) and the notion of language ideology, as discussed in the studies by Woolard (1998) and Kroskrity (2004). In the analysis, it was observed that the students reinforce language ideologies anchored in the legitimation of the educated norm of the Portuguese language and in the privilege of literary canons in school literacy practices.