Resumo O estudo da contratilidade miocárdica, baseado nos novos conceitos anatômicos que regem a mecânica cardíaca, representa uma estratégia promissora de análise das adaptações do miocárdio relacionadas ao treinamento físico no contexto do pós-infarto. Nós investigamos a influência do treinamento aeróbico na capacidade física e nos parâmetros de avaliação da mecânica de contração do ventrículo esquerdo em pacientes com infarto do miocárdio. Foram prospectivamente investigados 30 pacientes, 55,1 ± 8,9 anos, acometidos por infarto do miocárdio de parede anterior, aleatorizados em três grupos: grupo treinamento intervalado (GTI) (n = 10), grupo treinamento moderado (GTM) (n=10) e grupo controle (GC) (n = 10). Antes e após as 12 semanas de seguimento clínico, os pacientes realizaram teste cardiopulmonar de exercício e ressonância magnética cardíaca. Os grupos treinados realizaram treinamento aeróbico supervisionado, em esteira ergométrica, aplicando-se duas intensidades distintas. Observou-se aumento estatisticamente significante do consumo de oxigênio (VO2) pico no GTI (19,2 ± 5,1 para 21,9 ± 5,6 ml/kg/min, p < 0,01) e no GTM (18,8 ± 3,7 para 21,6 ± 4,5 ml/kg/min, p < 0,01). O GC não apresentou mudança estatisticamente significante no VO2 pico. Houve aumento estatisticamente significante do strain radial (STRAD) somente no GC: STRAD basal (57,4 ± 16,6 para 84,1 ± 30,9%, p < 0,05), STRAD medial (57,8 ± 27,9 para 74,3 ± 36,1%, p < 0,05) e STRAD apical (38,2 ± 26,0 para 52,4 ± 29,8%, p < 0,01). Os grupos treinados não apresentaram mudança estatisticamente significante do strain radial. Os achados do presente estudo apontam para uma potencial aplicação clínica dos parâmetros de análise da mecânica de contração ventricular, notadamente do strain radial, em discriminar adaptações do miocárdio pós-infarto entre pacientes submetidos ou não a programas de treinamento aeróbico.
Abstract The study of myocardial contractility, based on the new anatomical concepts that govern cardiac mechanics, represents a promising strategy of analysis of myocardial adaptations related to physical training in the context of post-infarction. We investigated the influence of aerobic training on physical capacity and on the evaluation parameters of left ventricular contraction mechanics in patients with myocardial infarction. Thirty-one patients (55.1 ± 8.9 years) who had myocardial infarction in the anterior wall were prospectively investigated in three groups: interval training group (ITG) (n = 10), moderate training group (MTG) n = 10) and control group (CG) (n = 10). Before and after 12 weeks of clinical follow-up, patients underwent cardiopulmonary exercise testing and cardiac magnetic resonance imaging. The trained groups performed supervised aerobic training on treadmill, in two different intensities. A statistically significant increase in peak oxygen uptake (VO2) was observed in the ITG (19.2 ± 5.1 at 21.9 ± 5.6 ml/kg/min, p < 0.01) and in the MTG 18.8 ± 3.7 to 21.6 ± 4.5 ml/kg/min, p < 0.01). The GC did not present a statistically significant change in peak VO2. A statistically significant increase in radial strain (STRAD) was observed in the CG: basal STRAD (57.4 ± 16.6 to 84.1 ± 30.9%, p < 0.05), medial STRAD (57.8 ± 27, 9 to 74.3 ± 36.1%, p < 0.05) and apical STRAD (38.2 ± 26.0 to 52.4 ± 29.8%, p < 0.01). The trained groups did not present a statistically significant change of the radial strain. The present study points to a potential clinical application of the parameters of ventricular contraction mechanics analysis, especially radial strain, to discriminate post-infarction myocardial adaptations between patients submitted or not to aerobic training programs.